segunda-feira, 11 de junho de 2007

Capitulo XXIII


- Marta!? Marta!? – Pedro quase teve uma síncope cardíaca quando entrou no apartamento com César e viu Marta desmaiada no chão.

- Que lhe fizeste? – Perguntou César.

- Estás doido? Eu não fiz nada! Não entraste ao mesmo tempo que eu!?

- Sim, entrei. Mas quanto ao que fizeste depois de eu ter saído já não posso dizer nada!!

Pedro praticamente o fuzilou com o olhar, “Mas o que este estúpido quer? Quem é ele para estar aqui a mandar bitaites e exigir explicações!”. Controlou a sua raiva e voltou novamente a sua atenção para Marta.

“Marta!? Marta!!”

Marta começou a ouvir a voz ao longe, já a sair do limbo da consciência-inconsciência conseguiu aperceber-se que tinha desmaiado e que precisava acordar. Ao mesmo tempo que voltava a si recordou o que sentiu e tentou lembrar-se do que viu.

Finalmente desperta, Marta abre os olhos. Por cima de si encontrou dois pares de olhos a devolverem-lhe um olhar inquisitivo. Marta não estava preparada para o que sentiu a seguir. O seu estômago embrulhou-se, sentiu vontade de chorar e o pânico tomou conta dela. Sem saber bem como pôs-se de pé e aos gritos empurrou Pedro que era quem estava mais perto de si.

- Marta! Tem calma! Está tudo bem! Sou eu, o Pedro!

Marta estava de costas para os dois mas a voz dele conseguiu traze-la momentaneamente a um estado de maior normalidade.

- O que é que ela tem!? – Perguntou César.

Marta reagiu à voz de César. Virou-se para lhe perguntar de onde o conhecia mas assim que voltou a deparar-se com o olhar dos dois homens a sua cabeça recomeçou a andar à roda.

- Tenho de sair daqui! Quero falar com o Inspector Francisco. – Sem saber bem porquê Marta arrependeu-se imediatamente de ter dito aquilo.

As feições de César e Pedro passaram de estupefacção para preocupação. - Porquê!? – Perguntaram os dois ao mesmo tempo.

- Porque preciso. – Responde Marta rispidamente já a sair pela porta fora.

... ...

Demorou apenas um quarto de hora a Francisco para responder ao chamado de Marta e ir ter ao apartamento dela. A voz dela deixou-o preocupado, ela estava assustada e desamparada. Quando entrou no apartamento apercebeu-se que Marta tinha chorado mas nada lhe disse. Sem que Marta percebesse o porquê começou a rir-se.

Marta olhou para ele incrédula – Está a rir-se de quê!?

- Desculpe Marta, mas é que não posso deixar de me lembrar da última vez que estive aqui. Aquele Scooby-Doo assustado não queria acreditar que os fantasmas dele eram apenas lençóis da cama com buracos para os olhos.

Marta sorriu. – Só o Inspector Francisco para me fazer rir nesta altura. O Mário sempre tinha alguma razão. Ele realmente estava a ser vigiado mas era uma vigia de mentirinha.

- Mau! Eu já não lhe tinha dito para me deixar o Inspector de lado? Só em situações oficiais. Mas vamos lá Marta, conte-me o que se passou.

Marta descreveu tudo o que sentiu desde que entrou no apartamento até ao momento em que praticamente fugiu de lá. Francisco não a interrompeu, apenas segurou-lhe a mão quando o sentimento de pânico parecia que ia voltar a tomar conta de Marta.

- Quem era o outro homem no apartamento!?

- Não sei. O Pedro disse que ia ter com um melro ao café. Devia ser ele.

- Bem… o Sr. Melro não nos ajuda muito – disse Francisco a sorrir para Marta.

Marta não sabia o que Francisco tinha, mas ao lado dele, ela sentia-se segura, amparada e com força para seguir em frente. A melhor forma que Marta o conseguiu descrever para si mesma é que se sentia abraçada e gostava muito do calor desse abraço.

- Pois não… Quando ele falou pareceu-me que já o conhecia de algum lado. Mas não tive forças para lhe perguntar de onde – disse Marta com um bocado de vergonha.

- Reconheceu a voz!? – Francisco apercebeu-se logo de quem poderia ser o homem – Como é que era a aparência dele?

Marta descreveu o melhor que conseguiu. – Ou muito me engano Marta ou esse era César Campos, o companheiro de Clara na rádio.

- Claro! Claro que era ele! Meu Deus como é que eu não o reconheci imediatamente!?

- Apenas interessado no dia-a-dia da rádio… está bem, está! E de repente está com Pedro no local onde Clara morreu. Como sempre o Doutor Casa tem razão… Everybody lies! Então num interrogatório são umas atrás das outras.

Francisco olhou para Marta e percebeu que mais uma vez o rosto dela se tinha fechado – Então? Que foi?

- Acho que não tenho jeito para isto, não sei se alguma vez vou conseguir fazer da PES a minha segunda natureza como diz que tem de ser. Nem o César Campos que ouço na rádio todos os dias consegui reconhecer. Entrei em pânico, até ao Pedro dei um empurrão sem mais nem menos.

- Parece-lhe sem mais nem menos Marta. Sim… o desmaio depois de ter estado na casa de banho foi uma reacção à forte emoção que sentiu lá. O corpo não estava preparado e teve quase que fazer um shutdown de emergência para lidar com a situação. Mas o que sentiu depois quando acordou… isso não. Isso não foi simplesmente ainda consequência das sensações anteriores. Está ligado a elas, obviamente. Essa sua reacção perante o olhar daqueles dois homens, ou até mesmo só de um deles, pode-nos dizer muita coisa, muita coisa mesmo. Coisas que a Marta na altura não percebeu mas às quais a sua percepção imediatamente reagiu.

Marta olhou para Francisco tentado absorver tudo o que estava embutido no que ele dizia. Desviando o seu olhar do dele Marta suspirou fortemente e diz embaraçada.

- Estou assustada! Não sei se estou à altura do que estão à espera de mim. Tenho medo de desiludir toda a gente.

Francisco puxa o rosto novamente na direcção dele para que ela o olhasse nos olhos.

- Marta. Não tens de ter vergonha nenhuma de ter medo, de estar assustada. O medo é bom, mantém-nos alerta. Só não nos podemos deixar dominar por ele. O medo tem de ser como um cão que ladra quando nos aproximamos. O latir dele alertou-nos para a presença de um perigo mas nós continuamos a andar, passamos o cão e seguimos em frente. Se ficarmos sem reacção e fugirmos, o cão pode começar a correr atrás de nós, pode até transformar-se num lobo que nos passará a perseguir.

Marta continuava a olhar para Francisco, as palavras dele tinham sido como um cobertor numa noite de Inverno. Francisco percebeu que ela estava a conseguir estabilizar as emoções.

- A parte do cão e do lobo li num livro – disse Francisco – É claro que lá estava dito de uma maneira muito mais lírica e era dito por um dos maiores e mais mortíferos guerreiros de sempre, mas acho que me safei bem.

- Obrigado. – Marta riu-se e agradeceu – Obrigado mesmo.

- Ora essa! Sempre que precisar de ajuda para enfrentar um caniche, conte comigo!

As palavras eram ditas em tom de brincadeira mas Marta sabia que não podiam ser mais verdadeiras. Sentiu a confiança dela a voltar e a voltar com mais força.

- Ok! Vamos então analisar tudo mais uma vez! – Disse Marta sorrindo para Francisco.

- Mais uma, duas, três… as vezes que forem necessárias. Mas antes tenho de comer porque estou com uma fome digna de um Obelix!

22 comentários:

Eduardo Ramos disse...

Esta moça escreve que é um mimo.
Muito bom Laudinha!

astuto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Touro Zentado disse...

Esta Laudinha... Será de família? Hehehehe! Muito bom sim senhora!
Gosto dos bocadinhos humorísticos do Francisco. O fulano deve ser mesmo gente boa.
A Marta terá ficado incomodada com o quê?
O que farão o Pedro e o César?

astuto disse...

Escrita fluente. Gostei. Embora preferisse ler mais o narrador, gostei. O desenvolvimento também é bom: encaixou bem no capítulo anterior. Parabéns.

Força ao próximo.

Cumprimentos a todos.

Luis Prata disse...

Que belo texto!!

Laudinha ao poder :) Estás lá miúda, adorei!

Estou danado para ler o próximo capítulo, deixaste mesmo água na boca aqui ao pessoal.

Miguel Ferreira disse...

Muito bom... Muitos parabens!

Nathalia disse...

Gosto muito dos seus capítulos :)

Anônimo disse...

Leitora casual mas deliciada com o conto e morta de curiosidade por saber onde vai ter!

Parabéns!!

Jaleco disse...

Lê-se q é uma maravilha...e a intriga está lá :)!!!

Corduroy disse...

Mt bem Laudinha. Gostei bastante!!! Excelentes dialogos...

Cristina disse...

Parabéns. Este capítulo, embora recheado de dialogo, está bastante cativante. Um dos melhores.

Força ao próximo. O nível voltou a subir e com ele as nossas expectativas. Parabéns ao vosso trabalho!

linfoma_a-escrota disse...

coméq se pode participar, também kero escrever um continho deixam-me? chamar-lhe-ia mil paus, prometo que me contenhu e escrevo uma cena decente
dar-te-ei os parabéns por este quando o acabar de ler


WWW.MOTORATASDEMARTE.BLOGSPOT.COM

R disse...

Continua. continua...

Touro Zentado disse...

Onde anda a nossa Leonor?

Luis Prata disse...

Deve ter tirado umas férias :) eu também que bem estou a precisar...

Sandra disse...

touro, tb já tinha pensado nisso... lol

Eduardo Ramos disse...

Ou então está a preparar alguma "bomba"!
:o)

Touro Zentado disse...

Aos interessados... O Capítulo XXIV está aí a rebentar...

Anônimo disse...

e para quando aparecer sexo no conto para animar a coisa? ah já agora podiam fazer capitulos mais pequenos porque isto não há pachorra para ler tanta coisa...

Anônimo disse...

so lamento ter tado ausente tanto tempo mas vou recuperar.

m.o

Leonor Martins disse...

Laudinha - Vou ser celere no comentário, tal como fui rápida na leitura...mas isto de se ir de férias e vocês continuarem a "trabalhar" gera algumas incompatibilidades :)...por isso, parabéns, gostei muito do teu capítulo, da forma como escreves e descreves, e do sentido de humor que imprimes aos diálogos.

Agora vou a correr até ao próximo capítulo...

susemad disse...

Laudinha isto é que foi escrever!!
Capítulo comprido!! Ehehe Parabéns pelos momentos de humor introduzidos na história.