segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Capitulo XXIX

- Porque é que ela está sempre a desmaiar? Já da outra vez que vim a esta casa encontrei-a estatelada no chão.
- Essa, senhor César, é uma excelente pergunta. – diz Francisco – Estás melhor, Marta?


Marta tinha ficado inconsciente apenas por momentos, agora estava sentada no sofá com a cabeça entre as mãos tentando regressar ao seu estado normal, fosse lá o que isso fosse naqueles dias. Precisava revelar tudo o que sentiu e viu a Francisco mas não o podia fazer com César à beira. Marta tentava perceber se era a casa, a presença de César, a presença de César na casa, nenhuma destas coisas, todas estas coisas. Certo era que havia ali algo que fazia com a sua PES entrasse num estado muito activo, um estado para o qual ela ainda não se sentia preparada. Levanta a cabeça e olha para Francisco dando-lhe a entender que precisa de falar com ele rapidamente.


- Sr. César, o senhor vai sair desta casa e amanha de manhã vai apresentar-se na judiciária para ser novamente interrogado.
- Como? A propósito de quê? – Pergunta César.
- A proposito de ter invadido a cena de um crime, de seguirmos essa história fantástica das SMS’s que diz receber e porque se o Sr. César quer tanto encontrar o criminoso como diz querer é do seu melhor interesse ajudar a PJ.


Mal Marta teve a certeza que César tinha saído e não os estava a espionar começou a falar como se não houvesse amanhã.


- Vocês não ouviram o grito, pois não? – Francisco confirma – Esta casa, este crime, tudo o que se passou aqui… eu sinto de maneira diferente, quer dizer, não sei se diferente é a palavra certa. É como se aqui todas as sensações fossem carregadas de uma conotação muito mais forte, mais carregada. O assassinato de Clara foi diferente… houve uma envolvência muito maior e isso eu acho que faz com que eu tenha uma… sei lá… como se aqui houvesse uma frequência de rádio mais clara.
- E o que viste desta vez? Conseguiste ver melhor o assassinato de Clara?


Marta olha para Francisco a medo, como se lhe fosse dizer a coisa mais absurda que podia dizer – Aí é que está Francisco… eu acho… eu tenho quase a certeza que não vi nenhum dos assassinatos que já aconteceram… eu vi um assassinato que ainda vai acontecer.
- Como assim? Uma visão do futuro? – Perguntou Francisco que reagiu com aparente tranquilidade ao que Marta lhe dizia.
- Não, eu não senti como visão do futuro, era como se eu tivesse entrado na cabeça do assassino e pensasse o que ele estava a pensar. Francisco ele vai matar e já escolheu quem vai matar, ele estava a pensar, a planear, saborear, o acto que vai cometer. Ele vai matar e vai ser amanhã Francisco, não tenho dúvidas disso, dia 24 de Julho.
- Marta preciso que te concentres, havia algo na visão que desse para ajudar a identificar o lugar, a casa, a pessoa?


Finalmente atingiu Marta, ela tinha visto a morte de uma pessoa que neste momento vivia a sua vida inocentemente sem ter consciencia que havia alguem algures que a tinha escolhido como vitima. Marta tentou com todas as suas forças perceber uma distinção na casa, uma carta num móvel, uma visão da paisagem na janela, qualquer coisa que se pudesse agarrar… se ao menos tivesse conseguido ver a pessoa, nada… não havia nada. Ela sentia que estava em seu poder salvar aquela pessoa e ia falhar, Marta já sentia a energia da morte presente. Apenas havia uma sensação mas nada que a ajudasse a identifcar quem era a mulher.


- Francisco eu sinto uma vibração também diferente neste assassinato, nada que se pareça com o de Clara, mas como se neste caso o assassino tivesse um motivo extra para matar aquela pessoa, lhe desse um gozo especial… que vamos fazer?
- Com relação à tua “visão”, a única coisa que podemos fazer… esperar.

--- ---

Depois de jantarem, Francisco levou Marta para casa e praticamente ordenou-lhe que descansasse. Nem tinham dado pelo tempo a passar e quando sairam da casa de Clara já passava das 19h, Francisco decidiu portanto seguir o seu proprio conselho e depois de um merecido banho, colocou o DVD de Nip/Tuck para tentar distrair-se com um episódio. Depois de ter desanuviado, sentou-se a rever as suas notas e a pensar em tudo o que tinha acontecido durante o dia de hoje. A casa de Clara aparentemente permitiu a Marta ligar-se ao pensamento do assassino mas Francisco não podia descartar o facto de César estar presente no momento. Ele era um dos suspeitos e a proximidade dele poderia ter permitido a Marta sentir o que ele estava a planear fazer. Mas isto tudo eram conjucturas e, ainda que não acreditasse nessa hipotese, poderia não ocorrer nenhum assassinato durante o dia de amanhã. E se acontecesse, por mais que lhe custasse, não havia nada que pudesse fazer para o impedir.


O seu telemóvel tocou perto das duas da manhã, tinha-se deitado não fazia muito tempo e ainda não tinha adormecido. Era a Inspectora Joana, institivamente soube qual era o tema do telefonema, embora ao mesmo tempo pensasse que ainda era cedo para que o assassinato tivesse sido cometido e o corpo descoberto. Mesmo assim atendeu o telemóvel à espera da noticia de uma nova morte.


- Diga Joana - Do outro lado não obteve resposta – Inspectora Joana? – Ouve em som de fundo o som de água a correr no chuveiro – JOANA?­ – Ouve agora o som de passos a afastarem-se.


- Meu Deus!


As palavras de Marta ecoavam na cabeça de Francisco, “como se neste caso o assassino tivesse um motivo extra para matar aquela pessoa, lhe desse um gozo especial”.

sábado, 15 de setembro de 2007

Regresso e... resumo

Caríssimos leitores, após uma paragem para as mais que merecidas férias eis-nos de volta.

Quanto ao conto propriamente dito podem esperar por desenvolvimentos nos próximos dias. Por agora fica aqui um resumo do que aconteceu até agora:

Marta é uma jovem mulher que se vê envolvida numa história de assassínios e corrupção de um momento para outro. Ela trabalha numa associação de micro-crédito, presidida por Bernardo (que se envolve em negócios pouco claros e foge do país). Bernardo apresenta-a a Pedro, um jovem advogado que trabalha com a Polícia Judiciária.
Pedro cria, em conjunto com Bernardo, uma história para testar as capacidades extra-sensoriais de Marta. Como esse teste foi bem sucedido Pedro leva Marta até à Polícia Judiciária e apresenta-a ao inspector Francisco.
Francisco é um homem bem-humorado que integra Marta na investigação de uma série de assassinatos. Marta é confrontada com uma capacidade que desconhecia e que ainda não controla.
A série de assassinatos tem um novo episódio com a morte de Clara, uma animadora da rádio que Marta ouvia todas as manhãs a caminho do emprego. Clara era casada com Pedro (em processo de separação), o advogado que apresentou Marta à Polícia Judiciária, e mãe da pequena Sara.
A investigação da morte de Clara leva a PJ a interrogar duas pessoas muito próximas da vítima: César, colega de trabalho de Clara na rádio e Diogo, irmão gémeo de Pedro, psicólogo.
César nutre uma paixão obsessiva por Clara. Quando sabe da morte da sua amada inicia uma busca ao assassino. César começa a receber mensagens no telemóvel enviadas pelo assassino de Clara.
Diogo é confidente de Clara. Após a morte de Clara viaja para a Suíça...
Pedro afasta-se da investigação para poder descansar e estar com a sua filha. Também ele sai do país.
Entretanto Marta começa a detectar um padrão nas mortes. Adivinha-se uma morte nos próximos dias...