"Bernardo? Quando vamos estar juntos?" questiona uma voz feminina do outro lado da linha.
"Quando? Tu já não te lembras do combinado? Tem calma, em breve estará tudo pronto para vires ter comigo!"
"Não Bernardo, estou farta! Estou-me a passar, sinto saudades tuas, não vejo a hora de estarmos finalmente juntos com todo aquele dinheiro! Vamos viver à grande até ao fim das nossas vidas!"
"Vamos? Vamos se fizeres o combinado, e agora tens é que te acalmar para ninguém desconfiar!"
"Calma?? Tu pedes-me calma?? Sabes, o cabrão do teu amigo Pedro gravou a nossa última conversa num pequeno gravador! E sabes o que fez depois? Mostrou a gravação à Marta! Sabes o que é isso significa? Estamos na merda a não ser que eu consiga por a mão naquele gravador!"
"O quê??? Tu deixaste que eles gravassem a nossa conversa?? És uma burra de merda! Tu sabes o que é que acabaste de fazer?? Sabes?? Foda-se! Tu és burra como à merda!"
"Desculpa meu lindo... estava muito excitada com a situação e..."
"Excitada??? Tu cala-te!! Vais encontrar aquele gravador custe o que custar! E rapidamente!"
"Mas como?? Não sei como o em..."
"Desenrasca-te porra!"
Bernardo desliga o telemóvel e continua a beber o seu Cocktail numa explanada bem longe da acção principal. Pensava agora na questão do gravador. Estava perturbado pois era algo que podia comprometer todo o esquema. Aquela burra... Num reflexo, abre a sua mala de mão de onde retira uma caixa de telemóvel a estrear. Rasga toda a embalagem e insere no telemóvel um SIM Card que vinha guardado dentro de um pequeno envelope. De seguida começa a marcar um número que mantém guardado na sua memória.

"Estou?"
"Parabéns, fizeste um excelente trabalho." responde Bernardo.
"Trabalho? Faço isto apenas com um objectivo..."
"Sim, o dinheiro claro!! Como te sentes?" pergunta Bernardo interrompendo.
"Vivo. A Marta continua longe do escritório o que dará toda a liberdade à Verónica para realizar as transferências. A PJ nem sonha, as provas que plantei foram cirúrgicas. Eles só não acusam imediatamente o Pedro porque temos um esquizofrénico apaixonado por Clara, um tal de César a cavar a sua própria sepultura."
"César?"
"Sim. Um peão num jogo de xadrez. Deixei-o descobrir as fotos da miúda e a PJ está confusa, não vão conseguir chegar a nenhuma conclusão e em breve este caso irá parar a uma gaveta bem funda." responde com tranquilidade ao mesmo tempo que observa uma foto assente na palma da sua mão.
"As fotos da pequena? Não era suposto ser a PJ a descobri-las? Tu faz tudo conforme o plano ou não vês um chavo ouviste?" diz Bernardo mudando o tom de voz e carregando nas sílabas de cada palavra.
"Descansa pois sei o que estou a fazer. César veio mesmo a calhar para baralhar toda a investigação."
"Ouve. Em relação ao nosso outro problema, a Verónica."
"Sim. A Verónica, sim. Tratarei dela para a semana como planeado, mas ainda precisamos dela pois só no último dia fará a transferência dos 90% de capital, e como sabes, apenas ela e a Marta sabem o código."
"Ouve-me bem, tu ouve-me bem. A estúpida da Verónica deixou que o Pedro e a Marta gravassem uma conversa que pode comprometer todo o nosso plano! Este factor pode deitar tudo a baixo!! Eu não quero passar o resto da minha vida atrás das grades a levar no cú!! Quero que resolvas também este assunto! Encontra-me esse gravador e elimina-o."
"OK. Considera-o feito. Tratarei disso muito em breve, e com especial atenção..."
"Breve? Não temos tanto tempo... Tens que tratar disso é já e pôr as mãos naquele gravador! E a Verónica tem que desaparecer mais cedo do que previsto. Faz o que tens a fazer..."
"Mas... mas ainda precisamos dela."
"Claro! Precisamos que ela faça a transferência, ela tem os códigos!! Ou queres ir perguntar o código à Marta?? Depois disso é tratares da Verónica como planeado, como toda a gente sabe, os acidentes acontecem."
"Sim. Não contava é que fosse tão cedo. Tinha pensado no dia 24."
"Isso é muito tarde... Precisamos de antecipar as coisas!"
"Vou ver o que posso fazer." responde com apreensão.
"É verdade, li aqui uma notícia de uma inspectora morta? Tu por acaso tiveste alguma coisa a ver com o que se passou??"
"Bonita mulher, muito requintada e com um cabelo de anjo. Ao que parece, deu luta a pequena, mas acabou por sucumbir. Não Bernardo, não fui eu."
"Por momentos pensei que tivesses sido tu, sabes?. Se lhe apanhas o gosto ainda começas a competir com os Serial Killers de Hollywood, Haha" diz sorrindo para o empregado de mesa que lhe traz mais um Cocktail.
"Hollywood? Eu não vivo nos filmes, sou real e por tal vivo na realidade."
"Em breve teremos os dois aquilo que tanto ambicionámos, tu e eu! Os milhões!"
"Os milhões Bernardo? Falas-me em milhões quando em ainda não vi um tostão. Contacta-me em dois dias." o telemóvel é desligado na cara de Bernardo.
Um peão num jogo de Xadrez, e tantos peões tem um tabuleiro de Xadrez... Bernardo pensa com os seus botões enquanto afunda as costas na cadeira da explanada, desfrutando em pleno da fabulosa paisagem. Os raios de sol que o atingem na face provocam-lhe expressões de conforto e serenidade. No entanto, nenhuma expressão humana conseguiria naquele momento esconder o nervosismo expresso nos seus olhos.