domingo, 1 de julho de 2007

Capítulo XXVI

Marta andava uma pilha de nervos nestes últimos dias. E chorava com alguma frequência. Era demasiado peso para os seus ombros pensava. Ou era o PES que parecia não evoluir, ou era o facto de toda a gente esperar o melhor dela e de ela depender para desvendar a identidade do assassino. Estava tudo uma enorme confusão na sua cabeça!!! Marta, determinada, pega no telefone. Procura na agenda um número... carrega no botãozinho verde.

-Estou! Inspector Mesquita? Daqui é a Marta. A maluquinha com "aquilo" do PES... Está tudo, mais ou menos. Olhe... OLHA... Estou com a cabeça cheia de dúvidas e confusa. Podíamos marcar um encontro? SIM?... Obrigado. Onde?... Jantar? Está bem! ... Em que lugar?... Ok! Vou ter consigo... contigo.

Em 15 minutos Marta chega de táxi ao Parque das Nações. Francisco estava á sua espera. Encostado ao seu Peugeot 307 preto, acena para Marta. A conversa logo começou.

- Conheço um óptimo restaurante, Marta.
- Ai sim Inspector.... Ainda bem, pois estou com alguma fome. Mas olhe que eu tenho gostos requintados!!!
- Mas eu pensava que você estava... com fome??!!
- Hahahaha!!! Estou a ver que requintado é o seu humor, Insp.... Francisco. Gosto disso. Ainda bem que me saiu na rifa um Inspector da Judite com bom humor. É bom para aliviar a tensão destes dias.
- Acredito que estejam a ser uns dias terríveis para si. Nunca imaginou que estaria neste momento a ajudar a "Judite" na descoberta de um Serial-Killer.
-Isso é verdade.
-Se realmente conseguir apurar a sua PES, pode bem ser a grande obreira de tal feito. É por isso que trouxe um dossier com dados relativos ás mortes das outras 3 vitimas que quero que analise muito bem. É muito importante que consiga dominar na perfeição esse seu dom, para que nos ajude a travar este assassino.
- Pois... Isso vai ser o mais dificil.
- Mas vai conseguir. Eu sei que sim. Eu acredito em si. Só falta você acreditar. E...ah e tal, se fôssemos comer então??
- Aí está uma boa ideia. Até já tenho o estômago colado ás costas.

......................................

Chegados ao restaurante, sentaram-se bem junto à janela, que dispunha de uma bela vista para o rio Tejo. O restaurante tinha uma decoração moderna com fotografias de músicos e vários instrumentos espalhados pelo espaço. Tudo era referência à música. Marta gostava. Estava deslumbrada com a envolvência conceptual em torno da música. Os Nouvelle Vague são o som de fundo. A letra de Dance With Me conseguia-se ouvir na perfeição.




"Let's dance little stranger
Show me secret sins
Love can be like bondage
Seduce me once again.
...
Won't you dance with me
In my world of fantasy
Won't you dance with me
Ritual fertility."

- Belo restaurante, Francisco. Estou impressionada. Para além de Inspector da Judiciária bem humorado, também sabe escolher bons restaurantes. Muito bem.
- Digámos que... "sei escolher bons restaurantes" é o meu nome do meio.
- Então... você chama-se... Francisco "Sei Escolher Bons Restaurantes" Mesquita. Parece-me um excelente nome para um inspector da judiciária..
- Estou a ver que está bem disposta, menina Marta. Mas lamento estragar-lhe essa boa disposição, mas temos de adiantar trabalho enquanto a comida não chega. Tenho aqui o dossier que lhe falei.
- Bahh! Ok, vamos lá então... errr... "dar forte"(?)... no trabalho.
- Então vamos lá. Isto que tenho aqui em mãos... é o dossier que contém os elementos dos 3 primeiros crimes cometidos pelo nosso "querido Jack"... estrangulador. Este dossier ficará consigo. Vai levá-lo para casa, estudá-lo, ver as fotos... e principalmente tocar nos objectos. Os objectos serão os seus mediadores na busca visual do assassino. Certo?
- Ceeerrrtttoo!! Então conte-me coisas sobre a 1ª vitima. Nome, idade, onde morava, ....
- Maria da Conceição. 32 anos. Natural de Bragança, mas resídia há já algum tempo em Sintra. Era funcionária de um banco. Solteira. Nas conversas que tivemos com alguns vizinhos, todos foram peremptórios em afirmar que era uma pessoa simpática e afavél. Aliás, todos eles ficaram incrédulos e muito tristes com a noticia da sua morte.
Em relação ao modus operandis, basicamente é o mesmo usado nas 4 vítimas até agora. Ele entra em casa das vitímas, e quando elas estão no chuveiro aparece por detrás e com as duas mãos bem apertadas no pescoço, sufoca as vítimas até à morte. Isto segundo os relatórios do médico-legista.
- Errr... cobarde!!!
- Segunda vítima. Raquel Coelho. 29 anos. Natural de Lisboa. Resídia actualmente na linha do Estoril. Professora de Psicologia. Solteira. Nas declarações dos vizinhos, notámos alguma apreensão... pareciam com medo quando se falou nela. A vizinha da porta da frente disse que havia sempre muito movimento em sua casa aos fins-de-semana. Principalmente homens. Ao que parece a nossa professorinha, mantinha uma certa... vida-dupla. Resta saber qual.
- Uma banqueira e uma professora de psicologia. O que virá a seguir? Médica??
- Boa Marta. Bastante perspicaz... Tânia Silva. 34 anos. Divorciada. Natural da Nazaré. Residente em Oeiras. Exercia funções de pediatria no Hospital Santo António. Segundo declarações de colegas de trabalho, ela nos últimos dias andava muito nervosa. Não falava muito e mesmo na relação com as crianças... não parecia a mesma. Fria, distante... disseram eles. Das 3 primeiras vítimas, esta parece que foi a que deu mais luta. Segundo o relatório, as escoriações eram bem mais visivéis no pescoço da vítima.
- E eu que pensava que estas coisas só aconteciam nos filmes.
- É verdade. Afinal... não estamos tão sossegados quanto isso.
- Ahhh!! Finalmente... o meu arroz de pato está pronto. Com esta história toda, até já me tinha esquecido da fome que tenho... argh!!!
- A gente continua depois do jantar. Mas entretanto fique aí com o dossier... não vá você esquecer-se dele... por causa do "pato".
- Seeeempre a mandar a piada. Como é que consegue, com todo este... clima de... mortes??
- Uiii!!! Nem eu sei. Digámos... que é a minha natureza ser assim... tão bem disposto.
- Ah, e em relação a César, o número que me forneceu já o usei. Falei com ele, mas adiantou de pouco. Não será melhor marcar um encontro com ele?
- Quer que o chame à Judiciária? Arranjava uma sala só para vocês os dois. Mais seguro e longe de olhares curiosos.
- Parece-me bem. Até porque ele continua bastante abalado com esta história toda da morte de Clara. Depois diga-me qualquer coisa sem falta.
- Amanhã, logo de manhã trato disso. E... o seu pato está bom??
..............................................

Dossier na mão e pronta para ir embora, Marta deixa cair algumas fotos do dossier. Há uma que lhe prende a atenção. Raquel Coelho estava meio emergida nas águas calmas da banheira. Olhos abertos. O olhar era mórbido e sereno ao mesmo tempo.
Marta observa atentamente, e num ápice começa a sentir algo estranho. Como se alguém a estivesse a arrastar para um local desconhecido. Estava em pleno apartamento da segunda vítima. Naquele momento, viu alguém... alto e esguio. Vestia de preto e usava chapéu. Um chapéu como outro qualquer. Também preto. A imagem era turva e dessincronizada. Mas era real e perceptível o suficiente para saber que era o assassino... alto e esguio. Acabara de sair do apartamento... a cheirar a "morte" nas suas mãos. Implacavél...
Parou...

Marta não se conteve e saiu a correr para o muro mais próximo. Vomitou...

- Ainda dou em bulímica com esta palhaçada! Dass!!!
- Vai! Voa patinho... Voa em liberdade!!!
- Haha...errr. Muito engraçadinho, senhor Inspectorrrr!!! Acho que enveredou pela profissão errada.
- Já não é a primeira pessoa que me diz isso, sabe...
- Imagino... imagino. Deve ser fresco você. Deve, deve!!!
- Nada disso Marta. Gosto apenas de tornar os momentos... mais... agradavéis só isso. Quer boleia para casa???
- Sim. Porque não. Não me estava apetecer dar conversa a um taxista com este hálito a "pato morto".
- Vamos então.

..........................................................

Já só, no seu apartamento e com os dentes bem escovados, Marta resolve deleitar-se no sofá. Dossier em cima da mesa. Aparelhagem ligada a "meio gás". Gostava de se concentrar ao som da música.


"Spy something begining with S.......

On candystripe legs the spiderman comes
Softly through the shadow of the evening sun
Stealing past the windows of the blissfully dead
Looking for the victim shivering in bed
Searching out fear in the gathering gloom and
Suddenly!
A movement in the corner of the room!
And there is nothing I can do
And I realize with fright
That the spiderman is having me for dinner tonight!
............
And I feel like I'm being eaten
By a thousand million shivering furry holes
And I know that in the morning I will wake up
In the shivering cold

The spiderman is always hungry..."


Começa pelos objectos. Toca-os. Sente-os. Marta fecha os olhos. O shampô de Maria, a 1ª vítima é apalpado em suaves toques. A imagem turva e dessincronizada volta a aparecer, mas desta vez mais clara e nítida. O mesmo corpo alto e esguio vestido de preto volta a aparecer. Ele está em todo o lado. Aquele chapéu. Um simples boné preto com umas pequenas letras a branco do lado direito. "SWISS". O que quer que signifique aquela palavra, ela tinha a ver com Suiça, pensava Marta.
Acorda. Decide apontar. Parece-lhe relevante aquela palavra. Já é um começo dizia ela.
Decide segurar o segundo objecto. A toalha de banho de Tânia, a 3ª vítima. Desta vez é dificil concentrar-se. Estava cansada...

15 comentários:

Eduardo Ramos disse...

Boa malha Corduroy!
Mas parece que quem ficou com o pato, agora, fui eu!
... hora vamos lá ver... alguém dá ideias o que Marta vai fazer seguir?
Não estou a falar para os contadores. Estou a falar para VOCÊS, caros leitores! :o)

Touro Zentado disse...

Parabéns Corduroy! :)
O esforço que sabemos que desenvolveste merece o nosso aplauso. Para os nossos leitores ficarem a saber: O Corduroy optou por seguir a Marta e o Francisco o que o levou a desenvolver uma escrita que não é a sua preferida. Quer isto dizer que pôs à frente de todas as suas prioridades as do conto e teve coragem para assumir esse passo!

O cap. está bom, coerente, leve nos diálogos e informativo.

The man who follows: Mr. Ramos!!!!

Leonor Martins disse...

Fantástico...temos um serial killer, que elege como vitimas mulheres abaixo dos 40, hipotéticamente disponíveis, residentes nos Concelhos de Sintra (1ª), Cascais (2ª), Oeiras (3ª), Mafra (Clara)...um boné a dizer Swiss pode-nos conduzir a Diogo...mas isso seria demasiado óbvio! Por outro lado o Pedro caracteriza-se por amar muitas mulheres e apreciar a água....hmmm...e o Bernardo? que é feito do Bernardo?

Quanto à Marta, não percebi o tratamento por "tu e você" para com o Inspector Francisco!

Pessoalmente, gostei da musiquinha, principalmente da 2ª ;)

Em balanço, gostei do capítulo pelo que introduziu...apesar da centralidade da história (preferiria começar a perceber a importância das outras personagens).

Eduardo - proponho que dês banho à Marta, está cansada e um bom banho pode conduzir a um bom momento de introspecção ;) ou não...

Corduroy disse...

Leonor: em relação ao tratamento "você" e "tu", posso dizer que é feito de propósito, pois, a meu ver, ela ainda está confusa com esta história toda... e Francisco é um agente da autoridade, logo, é algo que ainda lhe mete alguma confusão trata-lo por tu... mas está a melhorar nesse aspecto!!! Gostei dessa analogia entre as mulhere "disponíveis" e Pedro... quem sabe!!! Em relação à 2nda música... só demonstra que Marta tem bons gostos... tal e qual os nossos leitores!!!
***

Força Edu.

Eduardo Ramos disse...

... certo! Sou eu!
Isto vai ser duro.
Já fui comprar um caixa de Pursenid.
Espero acertar na dose!

Mocas disse...

Olá,
Gostei do capítulo, tenho só algumas observações a fazer. Podem ser preciosismos meus mas gostaria de assinalar algumas coisas (e por favor corrijam-me se estiver errada).
O excerto "Podiamos marcar um encontro? SIM?... Obrigado. Onde?... Jantar? Está bem! ... Em que lugar?... Ok! Vou ter consigo... contigo." parece-me um pouco atabalhoado. Ela pergunta onde e o outro responde jantar? A expressão "em que lugar" também não me parece corrente.

Existem também alguns erros ortográficos / lapsos, nomeadamente na acentuação:
- ás e á em vez de às e à;
- duvidas em vez de dúvidas;
- podiamos em vez de podíamos
- terrivéis em vez de terríveis;
- dossier em vez de dossiê (palavra registada no Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, de 2001);
- vitima ou vitíma em vez de vítima;
- noticia em vez de notícia;
- estomâgo em vez de estômago;
- afavél em vez de afável;
- Resisidia em vez de residia;
- visivéis em vez de visíveis;
- Digámos em vez de digamos;
- Implacavél em vez de implacável;
- agradavéis em vez de agradáveis;
- difícil em vez de difícil;

Embora não vá exactamente em linha com a maioria dos capítulos, gostei da escrita informal e do uso de interjeições.
Continuação de bom trabalho!

Eduardo Ramos disse...

hehe
Temos um dicionário vivo.

tigger . Obrigado pelas notas, mas sabes, o pessoal por vezes preocupa-se mais com o sumo que com os caroços. E em questões de acentuação, nem vale a pena falar.
Corduroy, tens paciência para alterar a coisa? ;)

Quando ao excerto "Podiamos marcar um encontro? SIM?... Obrigado. Onde?... Jantar? Está bem! ... Em que lugar?... Ok! Vou ter consigo... contigo."
Não há outro! Se reparares... estamos a ouvir na 3ª pessoa! Quando estás ao pé de alguém que está a telefonar é assim que ouves, não é? Não sabes o que do outro lado está a dizer , mas vais adivinhado segundo o que a pessoa que está o pé de ti vai dizendo. Isto, claro, se o telefone não estiver em alta-voz. :o)

Mas digam lá! O que acham que Marta vai fazer a seguir?

Tomar banho - registado. Isso mesmo Leonor. Depois de tanto vómito, Marta deve estar a cheirar a tudo menos bem.

E que mais?

Corduroy disse...

Boas Tiger. Em à parte do atabalhoado é o seguinte: Marta estava ao telefone com Mesquita (Inspector), logo, e a não ser k o telemóvel estivesse em alta voz (que não estava ligado, confirmo), era impossível ouvir o Inspector a falar, logo, desenvolvi uma espécie de monológo com Marta ao telefone, visto aquela parte ser centrada em Marta. O jantar foi proposto por Mesquita. Ela apenas repete a proposta feita por ele e mais nada, "Jantar?". Quando Marta pergunta "Onde?", Mesquita supostamente responde (e isto não é explicito pois o telemóvel não está em alta-voz... funciona apenas a imaginação do leitor), que sim e faz uma proposta de jantar a Marta de seguida. Certo??
Em relação aos erros ortográficos, só posso agradecer a correção feita!!!
Obrigado pela presença mais uma vez!!!!

Leonor Martins disse...

Tigger - baralhaste-me com o difícil ;)

Eduardo - ...já pensaste em assassinar a Marta?!

Jaleco disse...

Em grande Corduroy...isto está ao rubro :D!! Nem quero ver quando for eu outra vez!!

Força nisso Eduardo :)

Nathalia disse...

Gosto do humor, das músicas, da história... :o) O teu esforço valeu a pena!

Eduardo Ramos disse...

Leonor!
Matar a protagonista??? Isso seria um choque... mas fica registado! Quem sabe... mas ela ... tem uma uma coisa que o SK não gosta... e não digo mais nada... mas pode ser... que hummm... acabaste de me dar uma ideia.
Uma muito boa ideia!
hehehe... bigada Leonor!

Cristina disse...

O capítulo está bom, mas acho que exagera em expressões que normalmente exprimimos facialmente, como, por exemplo, bah, argh e afins...acho que, em certos momentos, tenta pôr uma dose de humor, nem sempre bem conseguida.

Ainda assim, bom trabalho :) E mais umas pistas quanto ao assassino.

Anônimo disse...

continuo a achar que o locutor da radio tem duas personalidades e sera ele o assasino.
mas falta os outros que por estaren fora do pais estao esquecidos e as tais fraudes na empresa da protagonista tambem ta esquecidas .

abraco.

m.o

astuto disse...

Portentoso. Corduroy, sinceramente gostei! Eu sei o quão difícil é escrever sobre a Marta, pois, ela domina algo nunca experimentamos. A escrita é fluente, tem humor, apresenta factos (já sabemos quem são as vítimas) e põe a narrativa bem encaminhada.

Parabéns, Corduroy.

Cumprimentos a todos.