- Que horror! Ainda cheiro àquilo! Banho. Preciso de um banho. E esta roupa toda também.
Marta dirige-se à casa de banho. Tira a roupa como se estivesse cheia de formigas e coloca-a da parte de fora da porta. Abre a torneira e ajeita o chuveiro:
- Não! Hoje … preciso de relaxar. No emprego está uma barafunda por causa daquela treta da máfia. Tratar da casa. Tratar dos assuntos dos outros. Ajudar a polícia. Este dossier malfadado…. Também preciso de tratar de mim. - pensou.
Coloca a tampa no ralo e o tapete de borracha no fundo da banheira e senta-se na beira do bidé olhando para a turbulência da água a cair.
Os seus pensamentos voam por minutos. Lembra-se do Mesquita e das suas piadas. “ Voa patinho…” . Sorriu. Percorre mentalmente todos o factos procurando omissões. Experimenta a temperatura. Fecha a torneira e com satisfação entra na água devagar, saboreando cada centímetro. Mergulha completamente voltando novamente à superfície, passados alguns segundos, ao mesmo tempo que puxa para trás seu cabelo. Deixa-se estar só com a cabeça de fora. Vai respirando devagar procurando relaxar. A água subia e descia, qual maré, acompanhado a respiração. Suas mãos sobem desde as ancas, passando pelo abdómen até à zona mamária inferior. As duas mãos acariciam o contorno suave de cada mama, subindo, depois, pelo externo, ficando com as mão cruzadas em cima de cada clavícula oponente.
Ouve um barulho. A porta começa a abrir-se devagar. Seu coração começa a acelerar. Sente um nó na garganta. Não sabe o que fazer. Lembra-se de gritar, mas uma orelha e uma pata branca denunciam o invasor:
- Becas! Seu doido!
- Miau! - respondeu sentando-se olhando para a dona com uma ar curioso.
Precisava mesmo relaxar. Fecha os olhos. Várias imagens surgem. Imagens que já lá existiam. Coisas que já tinha visto. Relembra o que viu há poucos minutos. Aquele boné. Podia ser uma pista.
- Tenho que ir aos locais.!
Abre os olhos e olha para fora da banheira. Tenho que ensinar o Becas a trazer o telefone.!
Pega no champô. Esquece! Fica para amanhã! Hoje é a minha vez!
--//--
- Pois é, Pedro! Não adiantamos nada!
- NADA?
- Nada! Ainda ontem jantei com Marta… - … jantar? … - … sim jantar, e ela, coitada ainda passou um mau bocado.
- Mas, Mesquita, nem uma porra de uma pista?
- Nem uma!… - diz num tom impotente.
O telefone da mesa gritou.
- Xiça! Tenho que baixar o som disto. – Estou?... Sim! Pode passar…. É Marta! – disse com a mão no micro. Pedro levantou-se e ficou alerta com ambas mãos em cima da secretária. Mesquita levanta a mão com o dedo indicador apontando para o tecto quando sentiu que Marta já estava do outro lado. - Estou? Marta?... Bom dia! Estás melhor?... Logo vi que sim! Mas diz-me lá porque me telefonas logo de manhã. Tens alguma coisa para mim?... Sim!... Hum-hum… - Mesquita ouviu por 1 minuto interrompendo somente com sim’s e hum-hum’s. Pedro mexia-se como um Tigre numa jaula, de um lado para o outro sem parar. Mas ela já viu alguma coisa? - Sim Marta. Fazemos assim. Vou buscá-la. Certo? Estou aí em 15 minutos. - desliga.
- Homem! Fala comigo! Estou quase a rebentar.
- Pedro. Vai para casa. Depois falamos.
- Para casa? Onde vais?
- Eu vou aonde tu não podes ir. Por isso casa!
- Eu também vou. Ela descobriu alguma coisa, não foi?
- Depois digo-te. Marta o que precisa menos agora é tipos a deitar fumo como tu. CASA!
- OK! OK! Está bem! Já percebi! É gira não é?
- Olha lá! Ainda tens a esposa morna e já andas de garras de fora? Qu’é essa merda?
- Eu já não estava com Clara há mais de meio ano. E já tive outras aventuras entretanto.
- Vá! Vai lá para casa. Quando é que cresces pá!? Desde a 4ª classe que és a mesma coisa.
--//--
- Então Marta!? Conta-me… e por cada senhor, passo-te uma multa.
- Bem! Preciso ir aos locais onde se deram estes crimes.
- TODOS?
- Não! Para já acho que não! Estava a pensar ir ao sítio onde houve maior tensão. O 3º.
- É uma boa ideia. Vamos lá então! Já vim prevenido. Trouxe as chaves! – disse mostrando um chaveiro apinhado.
A casa ficava no centro de Oeiras. Num prédio que de novo tinha muito pouco, mas estava bem cuidado.
Mesquita vai na frente. Sobe as escadas, escolhendo a chave certa. Chegando, abre a respectiva porta
- Mesquita? Uma pergunta parva. Repararam que as mortes foram sempre a 4ª terça-feira do mês?
- Como?
- Sim! Como está no dossier, 4 em 4 meses, mortas sempre da mesma maneira, MAS… sempre na 4ª terça-feira do mês.
- Bem! Já tinha reparado que era sempre numa 3ª feira, mas na 4ª do mês… sinceramente, não! Escapou-nos. Mas é assim tão relevante?
- Pode ser. Não sei. Mas uma coisa sei. O prazo está a terminar!
- Sim! Dia 24 de Julho… eu sei! Temos que nos mexer ou então… bom! Anda entra. Está aberta. Abrem-me bem esses olhos. Os objectos ajudaram?
- Sim. A toalha da dona desta casa deu um resultado mais ou menos o mesmo que dos outros objectos. Mas acho que aqui deve haver mais qualquer coisa.
- Eu fico aqui de lado. Deixa-me fechar a porta.
Marta acena com a cabeça afirmativamente sem tirar os olhos daquilo que lhe parecia a porta da casa de banho. Avança devagar. Com a ponta dos dedos da mão direita empurra porta, como se estivesse a escaldar, até estar completamente aberta. Sentiu um arrepio. Dá o primeiro passo. Inspira profundamente. Avança os braços como se deambulasse numa noite escura. Dobrasse indo tocar da cortina, rasgada, da banheira que está no chão. 3 flashes seguidos. Já os tinha visto. Nada demais. Toca nas paredes. Dizem-lhe pouco. Como se as imagens estivessem cansadas de dizer o mesmo.
Marta baixa os braços frustrada. Novo arrepio. Marta esfrega o braço esquerdo. Quando se volta, como se procurando algo, os olhos batem no espelho do lavatório. Algo lhe diz que é importante. Na da primeira vez, em casa de Clara, e agora outra vez. Aproxima-se. Levanta a mão esquerda e toca no espelho. Naquele mesmo momento ela vê reflectido um homem de cara tapada com um passa-montanhas preto. Boné na cabeça. Está baço. Está calor. Ouve-se a água correr. Humidade no ar. Estás em paz! - profere Marta. Começa a vocalizar uma melodia sua conhecida. Novo arrepio.
Marta deixa o espelho e sai da casa de banho. Mesquita assistiu a tudo e longe, calado. Pergunta:
- Ele mata para se sentir em paz?
- Parece que sim! Mas não sei. Há aqui qualquer coisa muito importante. Já senti isto em casa de Clara e volto a sentir aqui... - procura -não sei onde… - mulher! olha em volta - não sei - mexe em tudo. Na sanita. No porta-moedas. Em qualquer porra! Anda ! - MESQUITA! JÁ DE DISSE, NÃO SEI! Desculpa! Estou confusa. Dá-me vontade de partir qualquer coisa. Agarrar em coisas - Marta pega no comando do DVD - e atirar com elas... - um flash fez Marta ficar tensa de olhos arregalados como se tivesse levado um tiro. Volta-se para o DVD.
- Esta casa ainda tem electricidade?
- Sim!
- Alguém abriu o DVD?
- Sim! Quer dizer, não sei! Acho que sim! Eles têm ordens para ver tudo.
Marta estende a mão e liga a televisão e de seguida o DVD.
De imediato o DVD começa a ler um disco que estava inserido. Um vídeo clip.
- Ele quer que o ajudem! Pede por socorro! - disse Marta depois de de visualizado o vídeo.
- Concordo! - diz Mesquita em tom monocórdico ainda com os olhos no ecran da televisão. Pega no telefone. - Estou ! Quando chegar quero saber porque raio é que ninguém verificou o DVD no 3º caso!... Qual caso? QUAL CASO? O CASO QUE TENHO COM A EMPREGADA DO BAR DA ESQUINA!! QUAL CASO É QUE ACHAS QUE ESTOU A FALAR?... Hã?... O quê?... Júlia?... Qual Ju… a emprega… grrrr…QUERES FAZER O FAVOR DE LEVANTAR ESSE CÚ DA CADEIRA E IR VERIFICAR SE OS DVD’S FORAM VISTOS? … e caso não se lembrem… metem os pés a caminho e … … hã?... AQUI NÃO, ESTÁ CLARO! MAS HOJE ACORDASTE PARA O LADO DA ESTUPIDEZ?... ISTO É UMA FALHA MUITO GRAVE! MEXAM-SE!
Marta olha para Mesquita atónita:
- Até eu fiquei com vontade de ir a correr para qualquer lado. Xiça! Onde está o Mesquita que conheço?
- Está visto que ainda não se levantou da cama! Bom! Resumindo. Que temos?
- Bom! Temos alguém que não bate bem da cabeça. Gosta de matar mulheres loiras de olhos verdes, que se vestem bem, em determinada data e sempre do mesmo modo Não desarruma a casa. Só tem interesse na mulher e nunca arromba portas. Podemos presumir que é sempre conhecido das vítimas. Ele segue um padrão, mas pouco nos ajuda a saber onde será a próxima vitima, ou quem. Pelo menos desta vez deixou um DVD no leitor, nos outros sítios vamos a ver.
- Estamos na mesma.
- Bem! Nem tanto. Já seguiram o rasto de cada vítima? Locais que frequentavam. Algum clube… sei lá! Algo que as ligasse.
- Não demos com nada!
- Tem que ser alguém do convívio… alguém em quem confiam… ou então frequentam um lugar onde deixam a mala acessível de modo que alguém possa fazer um molde da chave de casa.
- Meu Deus! Eu sei! E a porra do DVD nem uma dedada tem. Nada! - suspirou Mesquita desconsolado.
- Quero ir a casa de Clara! Aquele espelho da casa de banho também deve ter algo para me dizer.
- E estás à espera de quê?? Já estás à porta do carro?
14 comentários:
Uau...Eduardo para não variar o capítulo está excelente.
Bom momento de suspense com o gato Becas:)
Boas descrições, bons avanços na história, fiquei em pulgas...
qual será o elemento comum entre todas as vítimas?
O conto está cada vez mais interactivo, gostei do pormenor do vídeo!
Cá espero as cenas do próximo capítulo!
Bem... Fantástico... mais uma vez!!! Muitos parabéns...
Ui ui Eduardo! Que grande capítulo e muito bem escrito! Estou ansioso pelo próximo.
PS: O vídeo é fantástico!
Abraço
Pratas
É um capítulo à Eduardo com certeza...
É com certeza um capítulo à Eduardo!
O pormenor do vídeo é muito bem pensado.
O Capítulo é mais do mesmo a que o Eduardo nos habituou!
Muito bem senhor Ramos! =)
bom lindo Eduardo o detalhe do video tambem pode dar pistas a explorar.
mas continuo a dizer que e o locutor da radio nao tera ele folgas as tercas toda as 4 semanas .
boa bontade para o que se segue.
abrc
m.o
Muito obrigada!
Eu bem que queria melhor, mas o tempo não me permitiu para tal.
No entanto, perante tanta especulação, nem tudo o que é pode ser, assim como nem tudo o que parece, é.
O que irá acontecer no dia 24...
;)
Muito bom...o capítulo :D com suspense, humor, ritmo, informação relevante para o caso, e "acentos" em quase todas as palavrinhas ;)
Pessoalmente, não gostei da utilização sucessiva de "porra" nem da frase "Tem que ser alguém do convívio"!
O "patinho" não foi caçado...ainda ;) será que o podemos deixar por uns tempos e saber mais das outras personagens?
E porque não? É uma boa sugestão.
Gosto publiquei o capítulo, foi com um olho fechado, tipo como quem vai carregar num botão à espera que expluda, mas correu melhor que que esperava.
Sim Leonor. Acho que outros personagens andam meio encostados, e se calhar já não têm muito para dar à história, opinião minha e do que me lembro. Mas isto dá sempre cada cambalhota. Mas tínhamos que avançar na investigação que é o ponto principal do conto!
Mas podemos saber o que andam os outros fazer. Nunca se sabe. Afinal... dia 24 está mais perto! ;)
Como apareceu "gosto publiquei" e "que que"quando queria escrever "quando publiquei" e "do que"?
E quantidade de MAS?...
... tem dias...
Tenho que treinar a escrever comentários que me dispensem mais do que 10 segundos.
Este já dura à 1 minuto... e ainda não consegui dizer o que queira!
:P
Sempre bem humorado :o)
Gostei muito.
já se lia um novo Capítulo ;) ... ou teremos que esperar por dia 24?
Li o capítulo com atenção e gostei muito. Apesar de ter muito diálogo é, ao mesmo tempo, descritivo. Muito boa a interacção entre a Marta e o inspector Mesquita, palavras escolhidas a dedo. O pormenor do DVD e a colocação do vídeo no post foi muito original!
Parabéns Eduardo, foi o teu melhor capítulo!
Cumprimentos a todos e boa sorte ao próximo.
Obrigado pela visita, espero que voltes mais vezes que eu cá farei o mesmo!
Este blog dava um livro, sem duvida :)
Postar um comentário