quinta-feira, 17 de maio de 2007

Capítulo XVIII

"César?", pergunta a recepcionista.
"Sim é César", responde com um tom agastado e triste.
"Estão aqui em baixo uns senhores da judiciária para falar consigo"...

César desce as escadas completamente absorto nos seus pensamentos e angústias. Quem seria a pessoa que lhe deixara mensagens tão perturbantes...o que queria consigo? A verdade é que toda a história dos assassinatos em série era desconhecida para ele. No seu mundo de dúvidas, existia Clara e as músicas que ouvia (e que o faziam recorda-la e senti-la), logo nem lhe passava pela cabeça que alguém com intenções tão destrutivas, quisesse algo com ele.

- Boa noite?! - exclamou César, como quem não estivesse à espera de ver inspectores da judiciária.
- Boa noite...é o Sr. César Campos?!
- Sou sim. Em que vos posso ser útil?
- O Sr. era colega da Dª Clara Madureira aqui na estação, estou certo?
- Era sim - replicou César com um profundo desgosto na voz.
- Como o Sr. sabe, a Dª Clara foi encontrada morta no seu apartamento ontem à noite e como tal, gostaríamos de saber quando a viu pela última vez, do que falaram, se ela parecia estranha...qualquer coisa que nos possa ajudar na investigação.
- Bem...isto está tudo muito confuso, eu... - César é interrompido pelo inspector Francisco Mesquita, que num tom muito sério, diz:
- É melhor falarmos na nossa sede. Por favor acompanhe-nos.

Entrando no carro, a conversa que iam mantendo com ele, era em tom de surdina...perdido nos seus pensamentos sobre a sua amada, ecoava a música de Sarah McLachlan - 'Angels'.

"Spend all your time waiting
for that second chance
for a break that would make it okay..."

Segundas chances...algo muito raro de acontecer na vida de alguém. Como reagir, ou melhor, como agir, caso tivéssemos oportunidade de reviver algo que nos tinha marcado, ou então aquela situação que nos ficara atravessada na garganta e que poderia ser remediada à segunda! Mas essa, era uma sorte que ele já não teria com a sua amada, apenas a recordação daquele doce e longo beijo o acompanharia para sempre.

"If you could live your life again
Would you change a thing or leave all the same
If you had the chance again
Would you change a thing at all
When you look back at your past
Can you say that you are proud of what we've done
Are there times when you believe
That the right you thought was wrong"
(Iron Maiden - 'Judgement of Heaven')

Chegado à sede da judiciária César começou a ficar desconfortável...uma sala pequena, luzes ofuscantes e três indivíduos a requerem a sua máxima atenção. Desta vez, ele não tinha como escapar para o seu mundo de ilusões.

- Sr. César, pode então por favor, descrever-nos a natureza da sua relação com a Dª Clara?
- Ela...era a 'alma' do nosso programa - diz César num tom inebriante e de olhos arregalados - muito atenciosa para comigo, acolheu-me bem, falávamos com normalidade sobre quase tudo...
- Incluindo da vida privada dela? - interrompe Francisco Mesquita.
- Bem, nesses casos, só se ela desabafasse, mas eu estava mais interessado no nosso dia-a-dia na rádio! - nesta altura os inspectores começam a notar um tom de obsessão na voz de César - Sabe, ela gostava mais de passar o seu tempo lá, do que em casa.
- Sabe o que se passava no casamento dela?
- Não! Só via o marido raras vezes, quando ia buscá-la à estação. - César não gostou desta pergunta. O seu tom alterado, fez com que os inspectores explorassem esta via.
- O que achava do marido dela, o Sr. Pedro Madureira?
- Não sei o que lhe dizer, mal lhe dirigi a palavra...apenas bom dia, boa tarde. O irmão dele é que eu conheço melhor.
- Diogo Madureira? - replicou Francisco Mesquita com os olhos arregalados.
- Sim...desde os tempos da faculdade. Não era do meu curso, mas costumávamos jogar ténis uma, duas vezes por semana e continuámos muito tempo após termos saído da faculdade.
- Isso é deveras interessante...! E em todo este tempo de convívio com o Sr. Diogo, nunca esteve com o irmão gémeo?
- Não! Só o vi quando conheci a Clara...e que susto apanhei. Pensei que fosse o Diogo!
- Susto?... - os inspectores olham entre si e César apercebe-se.
- Sim, até porque da última vez que falei com ele, pareceu-me um homem apaixonado e não se fartava de falar de uma mulher.

Os inspectores reuniram-se a um canto, analisando as palavras de César e tendo em conta o facto do registo de telemóvel de Clara ter mais de 10 chamadas para o telemóvel de Diogo na sua última semana de vida! O seu tom era de grande preocupação e ao mesmo tempo excitação por estes novos pormenores trazerem alguma luz à investigação. Ao acabarem, viraram-se para César:

- Sr. César, nós temos que nos ausentar por instantes, mas quero que fique por aqui, pois ainda temos muito que conversar consigo.
- Certo...mas ainda vou a tempo de voltar à rádio hoje? - César não gostou do tom do inspector Mesquita e cerrou o seu olhar no dele.
- Não contaria muito com isso. Nós falamos mal voltarmos.

Mal os inspectores saem da sala, César pega discretamente no seu telemóvel. Com muita calma, relê as mensagens recebidas há pouco e nelas tenta perceber que ligação têm com a sua ida à judiciária. César não vê a hora de sair dali para fora. A porta da sala fica mal fechada, nenhum barulho à volta...é a sua oportunidade!

Entretanto, os inspectores dirigem-se a casa de Diogo Madureira. Ao chegarem, notam todas as janelas com os estores corridos e umas pegadas de lama por entre o jardim. Tocam à campainha

- Quem é? - replica uma voz ténue, após quase 1 minuto.
- Polícia Judiciária!
Ouve-se um ranger de molas e um andar apressado.
- Bom dia senhores agentes...em que vos posso ser útil?
- Bom dia! Importa-se que entremos?
- Não...estejam à vontade. É por causa da minha cunhada que aqui estão?
Aquela pergunta de Diogo como que catapultou uma reacção síncrona dos três inspectores. Um sentou-se no sofá, juntamente com Diogo e os outros dois continuaram de pé a observar e a moverem-se pela casa.
- Relaxe Sr. Diogo...estamos aqui apenas por rotina. Queremos perceber que tipo de relacionamento a Dª Clara tinha com as pessoas mais chegadas.
- Ah, claro! Nós por acaso éramos muito chegados...mesmo após o pedido de divórcio do meu irmão.
- Não me diga! - os inspectores cruzaram os olhares por breves instantes e aquele movimento pela casa deixava Diogo inquieto, as suas mão não paravam no mesmo sítio. De repente, ouve-se uma voz vinda do quarto.
- Vai viajar Sr. Diogo?
- Sim...apenas uns dias de férias - disse Diogo de uma forma não muito convincente.
- Engraçado... - replicou a mesma voz do quarto - Zurique não é propriamente um sítio muito apetecível para férias!



19 comentários:

Luis Prata disse...

Clap Clap Clap.

Palmas para o Jaleco. Mas que belo capítulo!!!

Touro Zentado disse...

Muito bem Jaleco!
Estreia em grande!
Para os nossos visitantes mais distraídos... O Jaleco é o nosso caloiro. Apesar de fazer parte da equipa desde o início este capítulo é a sua primeira vez.
Espero que te tenha sabido bem... Heheheh!

Eduardo Ramos disse...

Jaleco!
Não tenhas vergonha. Faz capítulos mais generosos.
Mas para para o 1º está muito bom!

Freguês que segue!...

Leonor Martins disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Leonor Martins disse...

Achei brilhante, a reposição do irmão gemeo. O tamanho do texto, face ao suporte, é o adequado...permitindo uma leitura tranquila sem saber a pouco (a não ser pela manutenção do suspense no final).

A qualidade da escrita, é algo que obedece a várias dimensões como, clareza,legibilidade, estrutura,estratégias discursivas e linguisticas e conteúdo...e isso está presente neste capítulo do Jaleco.

Cada um dos contadores "conta" o mesmo personagem de forma ligeiramente diferente...e isso sente-se, acima de tudo, quando se é leitor...porque deste lado também se (re)criam esses mesmos personagens.

Acredito que algumas das reservas, nos comentários, derivem da preocupação por ser a "1ª vez" neste espaço - mas isso é salutar, porque revela o sentido de responsabilidade e o respeito que sentes pelos que te rodeiam nesta aventura.

...já agora...foi muita "generosidade" da tua parte teres dedicado alguns momentos à redacção deste texto, bem como a partilha-lo com todos os que por aqui passam!

Até breve...

Jaleco disse...

Por acaso achei q ficou um bocado grande :D!! Mas como a malta ñ gosta muito de capítulos pequenos, resolvi esticar-me um pouco!!

Realmente ñ foi fácil, ter q cruzar informação de 17 capítulos anteriores a este...ainda assim, acho q há muitos caminhos a seguir e pistas q foram quase deixadas ao acaso nos outros capítulos!!

Obrigado pelos vossos comentários ;)...também eu aguardo agora, pelo Sr(a) q se segue!!

Miss Alcor disse...

Boa Jaleco!
Gostei imenso do modo como encaminhaste as personagens!
Parece que te revelaste! Não sabia que eras assim um talento escondido! Parabéns! ;)

Nathalia disse...

Gostei, Jaleco! :o) Manteve a sua posição, e é isso que importa!

Touro Zentado disse...

Que bom ver-te por aqui Miss!
Volta para nós... por favor!

Nathalia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Corduroy disse...

Jaleco.... ganda Jaleco!!! Sabia que não ias defraudar... Gostei muito do rumo que deste ao meu capítulo e ainda BEM k a Marta não estava na judiciária... :)))
Parabéns pá...

Kanoff: parabéns para ti.

Cristina disse...

Parabéns pelo capítulo. Voltámos a ter alguém muito suspeito e dois possíveis homicidas.

Estreia em grande.

Lua disse...

Muitos Parabéns Jaleco!! Gostei muito. Aiii o que aí vem!! está a ficar bem interessante. Porque será que o Diogo está de partida para Zurique???

Cabe ao próximo justificar bem essa viagem:))

beijinhos

Jaleco disse...

Me very happy :D

Miguel Ferreira disse...

Ola a todos,
deixem-me dizer-vos que li o conto todo de seguida tal a ansiedade de ler o proximo capitulo...
Os meus sinceros parabens, a ideia é genial e vocês estão a corresponder brilhantemente.


Cumprimentos a todos e Parabens

Leonor Martins disse...

Já se sente a falta do próximo capítulo...

Eduardo Ramos disse...

Calma Leonor!
Está quase.
Até nós já estamos com bichos carpinteiros! :o)

Anônimo disse...

vola voltamos a trama.parabens.



abrc m.o

susemad disse...

Eheheh Boa!!
Jaleco mereces um bater de palmas fortíssimo. Está muito bom mesmo. Parabéns por este desenolvimento da história!!