domingo, 6 de maio de 2007

Capítulo XIV

Desce pelo elevador do prédio de apartamentos onde habitava a ex-mulher. Os seus olhos estão vermelhos. Quase não consegue evitar as lágrimas.
Apesar de já não existirem praticamente nenhumas ligações sentimentais ou afectivas com Clara, não desejava que aquilo lhe tivesse acontecido. Por momentos pensou na aflição que a ex-mulher certamente teria sentido. Arrepiou-se.
Ao sair para a rua apercebe-se do aparato em redor do prédio: vários carros estacionados e gente de um lado para o outro com aparelhos esquisitos na mão. Afinal aquele apartamento era o local onde tinha ocorrido um crime. Disso já não restavam dúvidas.
Respira fundo e olha para o céu estrelado, sentindo-se, pela primeira vez, realmente assustado com o desenrolar dos acontecimentos.
Mas não podia fraquejar e aquele era o momento de começar a agir. Tinha ainda de passar por casa e mudar de roupa. Iria precisar de vestes mais escuras do que as que trazia consigo.
Ao chegar a sua casa dirige-se imediatamente ao quarto para mudar de roupa. Sabia que não podia demorar muito tempo.
Pega nas chaves do carro, no telemóvel e no casaco de cabedal preto. Sai de casa quase a correr.
O toque do seu telemóvel, auxiliado pelo efeito vibratório, chama a atenção de Pedro. Alguém está a ligar-lhe.
“Sim” atende com uma voz ofegante e decidida, enquanto atravessa o pequeno jardim de sua casa em direcção ao seu carro que estava estacionado na berma da estrada.
“Sou eu” uma voz responde do outro lado. “Estou à tua espera no local combinado”.
“Óptimo. Vou já a caminho.” Pedro estava já dentro do carro com as chaves na ignição. “Aproveita e bebe um café. Vais precisar. A noite vai ser longa”.
Assim que desliga abruptamente o telemóvel, marca outro número, coloca o aparelho colado ao ouvido e arranca com o carro.
Do outro lado, atende um velho conhecido:
“Sim Pedro. Já tens alguma novidade?” A voz de Bernardo parecia ainda mais ansiosa do que da última vez que falaram.
“Não, ainda não. Vou agora para lá.”
“Ok Pedro. Mas tem cuidado” adverte-o “Não sabemos o que vais encontrar lá…”.
“Não te preocupes. Não vou sozinho” responde-lhe com o intuito de o tranquilizar, mas não surte efeito nenhum. Bernardo estava muito nervoso.
“As informações que te dei… já as partilhaste com a Marta?”
“Não Bernardo. Ainda não” Responde. “Não a quero colocar em risco” Faz uma pausa breve para pensar no belo rosto da mulher que prendia todas as suas atenções e pela qual estava a arriscar, quem sabe, a própria vida…”Quando eu sentir que ela está preparada, conto-lhe tudo”.
“Certo. Mais uma vez Pedro… tem cuidado” Disse realmente preocupado com o amigo “Se te acontecer algo nunca me irei perdoar”.
“Não vai acontecer nada. Eu depois ligo-te”. Desliga e olha para o relógio. Já passava da meia-noite. Ainda tinha de fazer cerca de 16 km de estrada até à vila de Mafra.



O Convento de Mafra é o grande símbolo histórico da antiga vila de Mafra. É o mais importante monumento do barroco português. Pedro olha para a sua direita e aprecia a beleza da sua fachada que se estende simetricamente ao longo de cerca de 200 metros, com a Basílica ao meio e o Palácio e o Mosteiro situados lateralmente. A esta hora da noite, a iluminação exterior confere ao monumento uma beleza ímpar. Quase não se vê ninguém nas ruas.
Pedro sorri por momentos, pois lembrava-se das inúmeras lendas que o pai costumava lhe contar quando era menino acerca do convento: “Sabes filho, nos subterrâneos do Palácio existem ratazanas enormes capazes de comer pessoas!”, para logo de seguida acrescentar “Mas há mais Pedro! Existe um túnel secreto que liga o Convento de Mafra à Ericeira. Só o Rei e a Rainha o utilizavam!” Aquelas memórias invadiram a mente de Pedro como um flash.
Pedro esboça um último sorriso e vira à esquerda para a Avenida 25 de Abril. Vai em direcção à Praça do Município.
Estaciona mesmo em frente da Câmara Municipal. No largo já estava alguém à sua espera.
Sai do carro e dirige-se para essa pessoa com um rasgado sorriso, visivelmente satisfeito por a ver.
“Diogo!”
“Mano!” corresponde o irmão ao mesmo tempo que o abraça com força e lhe dá umas valentes palmadas nas costas.
Diogo Madureira era irmão gémeo de Pedro. Solteiro e bom rapaz. Ao contrário do irmão, decidira não fazer a vontade ao pai e foi estudar Psicologia Aplicada para o Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), em Lisboa.
Concluiu o curso em 1994, com a média final de 16 valores. Ao fim e ao cabo, o pai até tinha ficado orgulhoso dele.
“Obrigado por teres vindo” disse Pedro olhando-o nos olhos.
“Como não podia ter vindo, Pedro?” respondeu-lhe entusiasmado “Depois de tudo o que me contaste!”.
“Sim, claro”.
“Pedro… sinto muito pela Clara” disse com num tom sério “Ela era uma boa mulher”.
“Sim… era” Respondeu com uma certa nostalgia “Obrigado”.
“Já sabem quem foi?”
“Não. Ainda não. Estão a iniciar neste momento as investigações. Deixei a Polícia Judiciária no apartamento dela à procura de pistas ou provas. Espero poder ajudar a descobrir alguma coisa ainda hoje.”
“Então vamos”
“Deixa aqui o teu carro. Vamos no meu” disse Pedro e retira um papel amarrotado do bolso e analisa-o com detalhe.
“O que é isso?” pergunta Diogo intrigado.
“Isto mano, é um mapa que o Bernardo me enviou esta manhã por e-mail. Mas vamos, eu no caminho conto-te tudo. Ainda temos de percorrer, segundo a indicação deste mapa, cerca de 11 km.”
Pedro conduzia, ao contrário do que era habitual, a uma velocidade normal, nem depressa nem devagar. Não queria levantar qualquer tipo de suspeita. Sabia o que estava a fazer.
Ao seu lado estava a única pessoa em quem Pedro realmente confiava. Os dois irmãos sempre foram muito ligados. A essa ligação muito próxima não era alheio o facto de serem gémeos.
Abre o porta-luvas, pega numa capa de plástico contendo os documentos anexos ao e-mail que Bernardo lhe enviara e entrega-o a Diogo.
“O que é isto?” pergunta ele.
“Como te contei ao telefone, o Bernardo viajou até Barcelona. O intuito da viagem foi o de estabelecer contacto com Ramon Granés, um empresário da cortiça com ligações familiares e empresariais a Portugal”
“Continua” Respondeu Diogo, sem tirar os olhos dos documentos.
“No século XIX, algumas famílias espanholas, sobretudo catalãs, deslocaram-se para região de Évora e espalharam-se por todo o distrito - Estremoz, Borba, Vila Viçosa, Alandroal, Mourão… - onde se empregaram na indústria corticeira. Alguns dos seus descendentes tornaram-se nos maiores industriais corticeiros do Alentejo”.
Diogo escuta com atenção e apercebe-se que estão inscritos nas folhas do e-mail imprimidas pelo irmão alguns nomes de pessoas. Eram, na sua maioria, homens.
“Esta lista de nomes diz respeito a essas famílias?” pergunta Diogo.
“A lista foi fornecida pelo Sr. Granés ao Bernardo. É um conjunto de registos de trabalhadores empregados em Portugal que a empresa dele fez ao longo do século XX”.
“Mas o que tem ver esta lista de nomes e estas famílias com os crimes que estão a ocorrer? E onde entra a tal Marta no meio desta história toda?”
“O Sr. Granés contou uma história antiga de família ao Bernardo. Parece que houve uma grande desavença entre o avô dele e um irmão, por causa de um segredo importante…”
“Que segredo?”
“Parece que o tal irmão do avô do Sr. Granés pertencia a uma antiga seita ibérica oriunda do século XVII, que se dedicava ao culto de uma suposta Deusa da Lua Ibérica”.
“Mas que raio?! Que Deusa da Lua é essa que eu nunca ouvi falar?!”
“Perguntas bem mano, mas eu não faço a mínima ideia” respondeu Pedro sem tirar os olhos da estrada. “Repara aí num nome que está na terceira página. Joaquim Cristóvão Vieira…”
“Ora Joaquim… Joaquim… Joaquim…” Diogo percorria os nomes na lista com o dedo indicador “Ah! Encontrei!” disse Diogo num tom excitado “Quem é?”
“Era o avô da Marta Vieira”
“A sério?! Ena pá! Mas o que faz ele aqui na lista?”
“Segundo o que o Bernardo apurou, o avô da Marta era um oficial do exército português que antes de entrar para a vida militar trabalhou desde os 9 anos na empresa de exploração de cortiça do avô do Sr. Ramon Granés.”
“Sim, mas e daí?”
“O Major Vieira, deixou o exército em 1946 para ingressar na PIDE - Polícia Internacional e de Defesa do Estado” e prosseguiu “Para além de ser um PIDE, foi o grande impulsionador desta seita em Portugal nos finais dos anos 50, ressuscitando-a e desenvolvendo-a, ao ponto de estabelecer ligações com o Estado Novo e mantendo contactos permanentes e directos com todas as casas da seita espalhadas por toda a Península Ibérica.
“Uau! O tipo era lixado.” Disse Diogo em tom de brincadeira.
“Diogo, o Major ergueu ao todo cinco Templos da seita em Portugal” disse como que a revelar algo de sinistro “Todos camuflados por Quintas, de norte a sul do país. Parece que ainda estão activos e dedicam-se ao ocultismo e ao esoterismo, mas com um marcado sectarismo, intolerante e intransigente” Fez uma pausa e acrescentou “Tudo leva a crer que estão envolvidos nestes crimes…” Outra pausa “Não sei é o motivo.”
“Esta seita chama-se a GRANDE LUA IBÉRICA?” pergunta Diogo ao ler a designação numas das folhas.
“Parece que sim.”
“E que mapa é esse que tens contigo?”
“É o mapa da localização do terceiro templo da Grande Lua Ibérica em Portugal” respondeu Pedro ao mesmo tempo que sai da estrada e mete por um caminho de terra batida. “Estamos quase a chegar”. Desliga as luzes do carro.
Avança cerca de 250 metros e decide parar o veículo.
“Vamos, a Quinta é já ali à frente”
Pedro e Diogo dirigem-se a um grande portão gradeado, cumeado por flechas de ferro forjado preto. Pedro acerca-se do portão e verifica que possui um sistema de abertura digital. Curiosamente e para seu alívio confirma que não existem câmaras de segurança a vigiar os intrusos. Olha em redor a perscrutar atentamente, mas não vê ninguém. A zona é isolada e pouco iluminada. Deserta.
Em volta estende-se um muro de pedra cuidadosamente construído, mas não muito alto. Tem cerca de três metros de altura.
Pedro vai buscar uma velha caixa de madeira que tinha visto no caminho e vira-se para o irmão “Diogo, fica aqui a ver se ouves alguma coisa. Eu volto já”
Regressa dois minutos depois com a caixa na mão e coloca-a junto ao muro. “Diogo, vou entrar. Tu ficas aqui. Se eu não voltar dentro de trinta minutos, ligas para este número” e entrega-lhe o telemóvel “É o inspector Mesquita e é ele quem conduz as investigações”.
“Espera Pedro, eu vou contigo!”
“Não mano. Eu vou sozinho. Não sabemos o que está ali dentro ou quem está a habitar a Quinta”. Coloca a mão no ombro do irmão, gesto típico dele e sorri confiante “Vai correr tudo bem”
“Ok. Toma cuidado”.
Sem perder mais tempo, Pedro sobe para a caixa e pula de uma forma atlética para cima do muro, colocando uma perna de cada lado. Olha atentamente para a luz de uma janela ao fundo, quase encoberta pela imensa escuridão da noite. Ouvia o som de corujas ao longe. Ou seriam mochos? Pedro não sabia bem.
Respira fundo e salta para o desconhecido.

50 comentários:

Paulo disse...

Afinal demorei menos tempo do que pensei.
Espero que gostem :)

Miss Alcor disse...

Ahhhhhh! Lindo Paulo! Simplesmente brilhante! Eheheh!
Ai que comiçhão! Quero mais! Quero mais!
Paulo: tens um dom! Escreves maravilhosamente! E além disso, o fio de prumo da história está a ser conduzido de modo brilhante!
Adorei. Muitos parabéns!
O nome da seita: simplesmente lindo!
Venha o próximo!

Nathalia disse...

Vou ter que pensar bem antes de escrever o cap 15...não sou nenhum Dan Brown :o)

Corduroy disse...

Faço uma vénia ao teu capitulo. Embora não seja fã de grandes diálogos em literatura, esta de certa forma prendeu-me bastante e adorei. Penso que não seria de esperar outra coisa. Mais uma personagem e a entrada de uma seita... Mais intriga!!!
Força Nathalia.

Eu já tou pronto para o meu capitulo!!!

Touro Zentado disse...

Ora aqui está um capítulo carregado de informação: nova personagem, seitas, ligações a assassinos...
É engraçado vermos que com os capítulos podemos perceber melhor o tipo de leitura e escrita de cada um de nós. O Paulo é o nosso Dan Brown ou José Rodrigues dos Santos! :)
Não estava nada à espera deste caminho! Quem continuar a vertente da história que envolve o Pedro vai ter de investigar muito...
Acho que deves dar umas luzes sobre o que achas que pode suceder a seguir Paulo, para orientar os próximos.
Eu ver-me-ia grego! Hehehe!

Só um aparte... A Clara foi morta no seu apartamento e não na casa onde Pedro vive.

Façam o favor de dizer o que pensam quanto às várias questões que se puseram nos comentários do capítulo XIII.

Fiquem bem!

Touro Zentado disse...

Outra coisa que me esqueci de referir: O Paulo fez uma viragem definitiva na nossa história - o Bernardo, que aparentemente tinha um papel secundário na história, entra definitivamente na trama.
Mas... na última referência que tinha sido feita a ele (capítulo VII) o Pedro dizia a Marta que ele de facto estava em Dhaca... e não em Barcelona.

Pessoal, atenção! Temos de ter atenção ao que se escreve antes para não cometer incoerências.

Nathalia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Paulo disse...

Em relação à Marta ter sido assassinada no seu apartamento, mea culpa. Não li com a devida atenção...
Vou já alterar, não é complicado :P

Quanto ao facto de Bernardo ter ido para Dhaka e não para Barcelona como refere o Eduardo Ramos no seu capítulo, julgo que é mais fácil ele alterar a parte dele do que eu alterar o meu capítulo, pois iria desvirtuar toda a história.

Assim sendo, proponho que o Eduardo altere o texto dele e faça o seguinte:

Onde o Eduardo escreve: "- Bem, Marta! Bernardo efectivamente está em Dhaka. Foi ele que me contou as tuas estranhas capacidades."

Podia ficar: "Bem, Marta! Bernardo efectivamente está em Barcelona, embora não tenha realizado a viagem pela Associação, mas sim por conta própria. Por isso é que não surge nenhum pagamento ou transferência na conta da Associação.
Contudo, ele contou-me também as tuas estranhas capacidades."

Qualquer coisa deste género... já enviei um e-mail ao Eduardo explicando-lhe o sucedido e ver se ele está de acordo.

Não é grave cometer estas pequenas gaffes. Pode-se sempre emendá-las ;)

Obrigado pelas criticas.

Nathalia disse...

Não é preciso alterar...já sei o que vou fazer com o Bernardo :o)

Paulo disse...

Ok, já alterei a parte inicial do capítulo e assim deixa de existir o problema do apartamento/moradia... :)

Maria Ostra disse...

Ena!
Muito criativo, sim senhora! :)

Luis Prata disse...

Paulo estiveste muito bem. Gostei especialmente da componente histórica que adicionaste à estória. Parabéns és responsável por mais um belo capítulo. ;)

OS "bugs" do texto são normais, não há problema se tivermos que alterar uma coisita ou outra no decorrer do conto.

Como vêm, quanto mais longo fica o conto mais vezes temos que ler os capítulos anteriores para evitar "bugs" e não esquecer pistas e detalhes de contos anteriores. Aproveitem tudo.

1 Abraço

Touro Zentado disse...

Isto pode parecer ridículo mas estava a tentar dormir e não conseguia! Tinha de vir até aqui.

O que eu quero dizer é o seguinte: O nosso conto já atingiu uma fase de desenvolvimento que lhe dá pernas para andar. Ele já sabe o caminho que tem de seguir, nós só temos de o acompanhar. Não nos devemos sentir tentados a mudar-lhe o rumo escolhendo atalhos que depois se podem transformar em becos sem saída.
Por favor, deixem que ele se desenvolva por si só. É mais fácil do que parece!
É preciso fluir. Não é preciso agitar, empurrar ou desviar.

Pronto! Já está! Espero conseguir dormir agora... Hehehe!

Bons capítulos e muita calma!

Paulo disse...

Touro, não percebi bem qual o sentido deste teu último comentário. Estás a falar de quê?

Eduardo Ramos disse...

Eu entendo muito bem o Touro.
Tem calma! hehe

Paulo! Não vou alterar nada pois parece que a nathaliapessoa tem a solução! Pode e é possível perfeitamente trocar as pernas a quem quisesse seguir a pegadas de Bernardo. Até ir alguém no lugar dele e usar o cartão de crédito só para "tapar" as pegadas já que ele pode andar a investigar algo que pode colocar muita gente em risco!

Bem Paulo. Está muito bem! A quinta fica no Gradil ? hehehe

Agora isto está mesmo quente! Temos milhões da possibilidades.
Se quiserem desenvolver outras coisas, deixem comigo o desenvolvimento do PES de Marta.

Touro Zentado disse...

Viva! Paulo o que eu quis dizer foi simplesmente isto: Acho que não temos necessidade de criar mais personagens ou mais enredos nesta altura do conto porque já temos muito por onde desenvolver.
Vamos trabalhar o que há, que já é muito, e deixar o conto seguir por si.
Acredito que o meu comentário não seja muito claro mas àquela hora da noite o raciocínio não era o mais fluente...
Um bom dia e uma boa semana para todos.

Não se esqueçam de responder às questões que se têm levantado.

Paulo disse...

Touro, agora percebi o sentido das tuas palavras.
A minha opinião é a seguinte:
Este Conto começou com uma história de amor entre dois personagens que trabalhavam juntos num programa de rádio – Clara e César – que prendeu a atenção de uma ouvinte: Marta.
Coincidência, ou não, Marta cruza-se com o marido de Clara – Pedro – que, por acaso, também é amigo do seu ex-colega de universidade e actual patrão: Bernardo.
Pedro, juntamente com Bernardo, estão a investigar uma teia de acontecimentos que conduzem, ao que tudo indica, a vários crimes, incluindo ao homicídio de Clara.
A relação de Clara com César, a história de amor dos dois colegas, morreu com o desaparecimento de Clara. Embora muita coisa esteja por esclarecer e César ainda pode vir a ter um papel importante nesta história toda.
Até agora gostei de todos os capítulos sem excepção.
Eu apenas dei seguimento a algumas coisas que tinham ficado no ar e introduzi, em concreto, uma razão de ser para os acontecimentos, ou pelo menos os indícios para tal.
Podem pegar neles ou não. A imaginação é o limite.
Quanto à introdução de novas personagens, limitei-me a introduzir o irmão gémeo de Pedro “ao barulho”, que por acaso até é psicólogo (e sendo especialista na área da Psicologia Aplicada, até pode vir a ser o elo de ligação entre as capacidades de Marta e a resolução destes crimes…), com o intuito de aparecer alguém da confiança de Pedro para o ajudar na sua investigação.
O Major Vieira, avô de Marta, é a causa pela qual Bernardo e Pedro a envolveram nesta história toda. Nada mais. Acho que, chegados ao capítulo XIV, já era tempo de dar algumas respostas e apresentar algo concreto. O Eduardo deu a ideia do grupo de fanáticos/seita e eu peguei nela…
É claro que todos estes acontecimentos no espaço e no tempo requerem pesquisa e investigação por parte de quem escreve. Eu tento sempre acrescentar factos reais quando menciono um local verdadeiro, uma entidade que existe realmente ou uma pessoa que, na vida real pode desempenhar aquela profissão específica.
Por exemplo, quando Pedro chega à vila de Mafra e passa em frente ao Convento, eu podia colocá-lo imediatamente em frente ao irmão e ignorar toda a informação que forneci sobre o Convento, as suas lendas (que são reais) e que aproveitei para introduzir como um “flashback” do passado do Pedro…
O mesmo digo relativamente a outras coisas que escrevi e tive o cuidado de investigar.
Mas isso sou eu, não quer dizer que os outros Contadores tenham de o fazer. Nem eu sou melhor só porque faço isso. Não é essa a minha intenção.

Touro Zentado disse...

Paulo não tinhas de te justificar perante mim.
Isto é tão meu quanto teu.
Aquilo que eu disse aplica-se a todos nós.
Se continuarmos a introduzir personagens e argumentos vamos ficar com muita matéria para desenvolver. Não quero com isto dizer que não sejamos capazes do o fazer. Só me questiono se há necessidade para tal. As coisas podem ser simples e belas.
Eu entendo que está na hora de parar de alargar o nosso campo de acção e começar a andar em frente.
Não entendas o que escrevi como uma crítica à tua forma de escrever. Tu aliaste diálogos à descrição, ao desenvolvimento, ao aprofundamento. Acho que está muito bem escrito!

Repara, um bom bolo não precisa de ter muitos ingredientes. Só é preciso que eles combinem bem entre si. Não precisamos de lhe acrescentar nozes e pinhões e avelãs e amendoíns (minuíns - como dizia a outra) se já lá estão as amendoas...

Temos a Marta, o Bernardo, o Pedro, o Mário, a Verónica, o Francisco, a Mónica, o Diogo, o César, a Clara, o Assassino, o gajo de Barcelona (esqueci-me do nome)...
Temos o "romance", temos o divórcio, temos a P.E-S., temos a seita, temos o assassínio, temos a Associação, temos a bolsa desaparecida, temos a foto no casaco da Clara, temos o templo, temos as fotos no quarto do César...

Temos tanto! Não precisamos de mais. Agora é bola prá frente. Passes curtos, com confiança, nada de exageros nas fintas...

Cristina disse...

Parabéns!Mais um capítulo cheio de emoção e de suspense. O conto parece estar a correr às mil maravilhas.

Touro Zentado disse...

Esqueci-me de pôr o acento em amêndoa... Hehehe!

Paulo disse...

Eu percebo Touro, mas julgo que tudo, tal como está neste momento, tem uma ligação. Há uma conexão lógica entre os acontecimentos que ainda não se perdeu. Não há motivo para alarme neste aspecto.
Também acho que, a partir deste momento, se deve andar para a frente!
As personagens estão dispostas como peças de xadrez num tabuleiro. Agora há que agarrar nelas e jogar. E as jogadas/movimentos podem ser milhares! ;)

Luis Prata disse...

Boa Touro, estou de acordo.

Ao lermos nesse teu pequeno parágrafo todas as personagens que temos e todos os mistérios, chegamos à conclusão que já temos fruta suficiente para fazer o sumo. Só falta fazer a mistura certa.

Boa sorte para o próximo.

Paulo volto a dar-te os parabéns pelo enquadramento histórico. Estiveste muito bem ao descrever o local, e o estudo prévio que fizeste é um exemplo a seguir.

Miss Alcor disse...

Pessoal, concordo com tudo o que foi dito. Mas não podemos colocar um travão na criatividade. E se alguém sentir necessidade de introduzir personagens, então deve fazê-lo. Desde que não haja muitas falhas no esquema geral das coisas.
No entanto, a verdade é que já temos um enredo grande e com muitas pernas para andar.
E uma coisa é certa, capítulos calmos e sem grandes ondas é uma boa forma de dar continuidade a uma personagem, sem estragar o esquema geral (eu pelo menos falo por mim! se não me sentir confiante com o avançar que quero dar à história, simplesmente dou a volta por outro lado!)

Cada um deve fazer aquilo com que se sentir melhor. Acho que o conto está a correr maravilhosamente. Haja calma e acima de tudo abertura para dizermos o que nos dá na alma. Façam perguntas, peçam sugestões. Acho que é uma boa alternativa.

Fiquem bem. Boas postagens para os próximos.

Anônimo disse...

ta espetacular ate ja tem seita religiosa fixe quero mais.

bom trabalha de equipe.


abrc m.o

M.M. disse...

Uma iniciativa muito interessante.
Vou ler do princípio. Mais tarde comentarei.
;-)

Touro Zentado disse...

A todos os contadores... A esta hora receberam um convite para um blog. Esse blog só será visto pelos contadores. Lá poderemos trocar opiniões...
Se por acidente recusarem o convite digam-me que eu convido de novo...

Paulo disse...

Já aceitei o convite!

Anônimo disse...

Contadores...acabo de ficar deveras triste...parte do gozo de vir espreitar o Vosso blog várias vezes ao dia, passa...por ser possível acompanhar o Vosso processo criativo colectivo, através dos comentários. Ao passarem a trocar opiniões num espaço reservado tal deixará de acontecer neste mesmo espaço e esse acompanhamento diário deixa de fazer sentido...

Miss Alcor disse...

Snif, snif! Eu não recebi convite nenhum! Estou assim a ser colocada de parte! Tudo bem, eu compreendo! Eheheh!
Agora a sério, não recebi convite nenhum!

Eduardo Ramos disse...

leonor martins.
Não fiques triste. Era um mal necessário. Chegamos todos a essa conclusão!
De certeza que queres continuar a vir aqui ler o que andamos a fazer com tanto carinho, mas neste momento temos que partilhar as nossas ideias e metas. Estávamos a correr o risco de contar o fim da história indo ainda no início.
Quando se faz uma obra, quando se pinta um tela, nunca mostramos o peça até ao último momento.
A verdade é não nos conhecendo,não sabemos como pensam os nossos colegas e logo mais cedo ou mais tarde alguém fazia um capitulo que iria acabar num beco sem saída e o nosso esforço vir a dar em nada!
Assim, conversando e trocando ideias temos mais a certeza que poderemos levar este conto a bom porto. Isto não é só pra ti presada leitora, mas para todos os outros leitores que ficarem um pouco desiludidos.
Mas não fiquem. Continuaremos a dar dikas aqui e MAIS, esperamos que vocês, presados leitores mandem ideias. Boas ou parvas. Não interessa.
O blog restrito é para preservar a integridade do conto. Mas aqui é onde tudo vale.

Anônimo disse...

Eduardo, obviamente que respeito a Vossa opinião, e continuarei a ser assídua na leitura...apenas tenho uma opinião diferente, pois considero que o que dá vida a esta experiência, são as Vossas dúvidas, incertezas, motivações, entusiasmo, incongruências, fundamentações, etc, e isso é o que tem estado espelhado nos comentários (quer no conteúdo, quer na cadência e timings das Vossas intervenções).

Quanto aos becos sem saída, não podem eles próprios ser desafiantes à capacidade criativa e de resolução do contador seguinte? :)

No que respeita à "exposição" da obra, neste caso concreto e até pelo suporte utilizado, esta acontece capitulo a capitulo...é pois nesse momento que ela Vos escapa para ganhar contornos infindáveis, significados impensáveis...tantos quantos as interpretações daqueles que com ela tomam contacto...obviamente que a trama é Vossa...mas tal como um quadro, um texto não é uma obra acabada, pois será sempre (re)criada no momento em que cada um a observa, ou no caso em questão, a lê.

Espero que continuem a tirar o máximo prazer desta experiência...e que não se distanciem dos Vossos leitores...

Até breve...

Paulo disse...

Esta frase da Leonor Martins: "Quanto aos becos sem saída, não podem eles próprios ser desafiantes à capacidade criativa e de resolução do contador seguinte?" acho que resume muito bem uma das ideias que sempre esteve presente na minha mente.

E digo isto porque, aqui e ali, verifiquei uma certa "aflição" dos Contadores relativamente ao que se escreveu antes e, consequentemente, ao que se tinha de escrever a seguir.

Não me levem a mal isto que estou a dizer, mas eu senti, ao fim de alguns capítulos, uma "inveja" muito grande por não poder ser eu a escrever a seguir, por não ser eu a descalçar a aquela "bota", por não ser eu a ter que puxar pela imaginação e tentar desfazer aquele "nó".

É um desafio delicioso pegar num capítulo escrito por uma pessoa e dar-lhe continuidade.

É uma imensa satisfação, concretizado o nosso capítulo, conseguir deixar o caminho livre para que a pessoa que vem a seguir possa optar entre um de vários destinos possíveis.

Debater todas as fragilidades e analisar os caminhos a seguir é o segredo para o sucesso.

Se por um lado eu entendo o que o Touro queria alertar para o excesso de argumentos, de novas personagens ou de outras complexidades, por outro estou de acordo com a Alcor: a imaginação não tem limites! A criatividade, não pode ser travada...!

Leonor, eu vou continuar aqui a expor as minhas ideias, as minhas dúvidas, as minhas fragilidades, sempre com a mente aberta para receber todas as criticas.

Peço-te que continues a vir aqui e que partilhes as tuas opiniões.

Obrigado :)

Daniel Santos disse...

paulo, está divinal. Levaste o conto para outra dimensão. Conseguiste dar-lhe mais emoção ainda. Um culto antigo, uma seita, uma lista, um segredo...Muito bom, parabéns!

Eduardo Ramos disse...

De facto concordo com leonor... mas assim vamos acabar numa "never ending story" ou "floribela" ou "anjo selvagem". E de certeza que no nosso intimo queremos acabar este para começar outro.
Se andarmos a encontrar SEMPRE fugas para tudo, num lugar de um livro estaremos a escrever uma coisa tipo circulo de leitores em 15 volumes!
Isso cansa!
As fugas vão continuar a existir. A imaginação vai ser o martelo e o cinzel. Mas acho que devemos caminhar todos num mesmo sentido para termos a nossa obra acabada e não mais uma "Santa Engrácia"!
Como eu disse... AQUILO é só para ajudar a criar uma meta um destino e para não revelar logo o fim aos leitores tirando toda a graça do conto.

Luis Prata disse...

Olá!

Estou de acordo com tudo o que aqui está escrito, quer dos leitores, quer dos escritores.

No entanto se tiver que escolher, estou mais de acordo aqui com o último comentário do Eduardo porque para mim é a melhor opção.

Acho que em tudo na vida deve existir um mínimo de organização, e esta a meu ver é necessária para a qualidade final.

Este continuará a ser O espaço de debate de ideias de leitores e escritores.
O outro será apenas um espaço de organização e controlo de coerência.

Mocas disse...

Gostei muito deste capítulo. A introdução de mais uma ramificação na história com um tipo de escrita à la Dan Brown ou José Rodrigues dos Santos é interessante sendo que que o input histórico é sempre bom para qualquer leitura.

Como leitora assídua deste blog não posso deixar de sentir alguma pena por a construção deste conto passar a ser privada. Parte da piada disto tudo reside nestas discussões do rumo a seguir. Mas compreendo a vossa necessidade de fazer isso sob pena de haver tantos rumos e tantas personagens que se perde o fio condutor da história e se geram contradições.
Vou continuar a acompanhar isto com o mesmo entusiasmo e expectativa e só espero que tudo o que não for "confidencial" possam vir aqui partilhar connosco.
Continuação de bom trabalho!

Touro Zentado disse...

Toda e cada palavrinha do Pratas
(e, implicitamente, do Eduardo)... Subscrita por mim!

Fear not Leonor! Hehehe! We shall not leave!

Começamos por aqui e por aqui continuaremos. Fazer as coisas de uma forma diferente agora seria subverter um valor essencial deste "projecto".
Acho que falo por todos os contadores (já deu pra ver a opinião de alguns) quando te digo que é aqui que tudo vai continuar a acontecer... Podes descansar! :)

Miss Alcor disse...

Muito bem pessoal!

Quanto ao outro Blog, acho que é mesmo uma questão prática! Há coisas que não podemos divulgar, ideias que vamos tendo que podem causar impacto e suspense na história, mas que se as contarmos aqui acabamos por estragar a surpresa!
É mesmo por uma questão de organização!
De resto, vamos continuar a discutir aqui! Afinal é aqui que tudo se desenrola! ;)

Paulo disse...

Me too, Alcor :)

Eduardo Ramos disse...

E agora acabemos com a pausa para o café e aBancemos.
Temos capitulo XV ou não hem??? hehehe

Paulo disse...

Touro, porque não colocas por ordem de postagens a barra do lado direito "Os contadores de histórias"?
Assim sabíamos sempre a ordem de publicação dos capítulos...

Touro Zentado disse...

Isso não dá para ordenar. Se reparares, de cada vez que abres o blog aparece uma ordem diferente...

Sobre sentires "inveja"... descansa... Não és o único! Hehehe!

Mocas disse...

Com todos estes comments já estou mais descansada :)
By the way, obrigada pela referência na secção dos visitantes :) É sempre gratificante um blog que reconhece os seus leitores!
Já estou em pulgas para o próximo capítulo, ainda demora muito??

Nathalia disse...

O cap 15 vem amanhã. A vida de universitária é dura! :o)

astuto disse...

Cheguei! Não pude participar da discussão por motivos técnicos, mas estou contente porque depois de estar ansioso por ler isto tudo, acho que o conto está a ficar muito bom.Parabéns ao Paulo!

Paulo, a tua narrativa tem um fio condutor do princípio ao fim! O estilo policial incutido por ti chega a ser hipnotizante! Muito bom!
Parabéns de novo e força ao próximo(a)!

Daniel Santos disse...

Eu estou com um little problema com a aceitação do convite...Já abri o convite, mas agora não consigo entrar no blog. Estou a fazer alguma coisa errada? :o(

Touro Zentado disse...

Phantom... para entrar tens de usar a password de blogger...

Luis Prata disse...

Hummm Universitária :)

Eduardo Ramos disse...

Estou curioso porque é que a quinta não tem câmaras.
1ª - é uma quinta normal e de uma forma normal, não tem câmaras.
2ª - Tem uma matilha de au-aus que fazem muitos doi-dois a quem entrar sem autorização!
:o)

susemad disse...

Bem... isto está que está!! Ehehe
Mesmo, mesmo muito empolgante e eu não posso ficar aqui por muito mais tempo a escrever, porque ainda tenho um capítulo e pouco tempo para o ler!!