- Porque é que ela está sempre a desmaiar? Já da outra vez que vim a esta casa encontrei-a estatelada no chão.
- Essa, senhor César, é uma excelente pergunta. – diz Francisco – Estás melhor, Marta?
- Sr. César, o senhor vai sair desta casa e amanha de manhã vai apresentar-se na judiciária para ser novamente interrogado.
- Como? A propósito de quê? – Pergunta César.
- A proposito de ter invadido a cena de um crime, de seguirmos essa história fantástica das SMS’s que diz receber e porque se o Sr. César quer tanto encontrar o criminoso como diz querer é do seu melhor interesse ajudar a PJ.
- Vocês não ouviram o grito, pois não? – Francisco confirma – Esta casa, este crime, tudo o que se passou aqui… eu sinto de maneira diferente, quer dizer, não sei se diferente é a palavra certa. É como se aqui todas as sensações fossem carregadas de uma conotação muito mais forte, mais carregada. O assassinato de Clara foi diferente… houve uma envolvência muito maior e isso eu acho que faz com que eu tenha uma… sei lá… como se aqui houvesse uma frequência de rádio mais clara.
- E o que viste desta vez? Conseguiste ver melhor o assassinato de Clara?
- Como assim? Uma visão do futuro? – Perguntou Francisco que reagiu com aparente tranquilidade ao que Marta lhe dizia.
- Não, eu não senti como visão do futuro, era como se eu tivesse entrado na cabeça do assassino e pensasse o que ele estava a pensar. Francisco ele vai matar e já escolheu quem vai matar, ele estava a pensar, a planear, saborear, o acto que vai cometer. Ele vai matar e vai ser amanhã Francisco, não tenho dúvidas disso, dia 24 de Julho.
- Marta preciso que te concentres, havia algo na visão que desse para ajudar a identificar o lugar, a casa, a pessoa?
- Francisco eu sinto uma vibração também diferente neste assassinato, nada que se pareça com o de Clara, mas como se neste caso o assassino tivesse um motivo extra para matar aquela pessoa, lhe desse um gozo especial… que vamos fazer?
- Com relação à tua “visão”, a única coisa que podemos fazer… esperar.
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Depois de jantarem, Francisco levou Marta para casa e praticamente ordenou-lhe que descansasse. Nem tinham dado pelo tempo a passar e quando sairam da casa de Clara já passava das 19h, Francisco decidiu portanto seguir o seu proprio conselho e depois de um merecido banho, colocou o DVD de Nip/Tuck para tentar distrair-se com um episódio. Depois de ter desanuviado, sentou-se a rever as suas notas e a pensar em tudo o que tinha acontecido durante o dia de hoje. A casa de Clara aparentemente permitiu a Marta ligar-se ao pensamento do assassino mas Francisco não podia descartar o facto de César estar presente no momento. Ele era um dos suspeitos e a proximidade dele poderia ter permitido a Marta sentir o que ele estava a planear fazer. Mas isto tudo eram conjucturas e, ainda que não acreditasse nessa hipotese, poderia não ocorrer nenhum assassinato durante o dia de amanhã. E se acontecesse, por mais que lhe custasse, não havia nada que pudesse fazer para o impedir.
O seu telemóvel tocou perto das duas da manhã, tinha-se deitado não fazia muito tempo e ainda não tinha adormecido. Era a Inspectora Joana, institivamente soube qual era o tema do telefonema, embora ao mesmo tempo pensasse que ainda era cedo para que o assassinato tivesse sido cometido e o corpo descoberto. Mesmo assim atendeu o telemóvel à espera da noticia de uma nova morte.
- Diga Joana - Do outro lado não obteve resposta – Inspectora Joana? – Ouve em som de fundo o som de água a correr no chuveiro – JOANA? – Ouve agora o som de passos a afastarem-se.
- Meu Deus!
As palavras de Marta ecoavam na cabeça de Francisco, “como se neste caso o assassino tivesse um motivo extra para matar aquela pessoa, lhe desse um gozo especial”.