sexta-feira, 20 de julho de 2007
Capítulo XXVIII
Vindo de dentro, o cheiro a vazio incomodava-o. Desejava ser recebido calorosamente por alguém nem que fosse por uma só vez.
Em casa a imagem de Clara continuava a assombrar aquelas paredes. Continuava a sentir o seu cheiro e por momentos chegava a vê-la ali consigo quase que lhe podia tocar mas seus dedos logo percebiam que ali só continuava o vazio.
A ideia de que Clara e Diogo fossem amantes e que pudessem ter uma filha queimava seu peito.
A mulher que tanto amava passara a ser uma estranha a seus olhos.
Bip Bip!
Seu telemóvel toca, novamente as sms misteriosas.
-Procura as respostas hoje na casa da Clara às 14h
César assustado pousou o telemóvel, seu coração batia a mil mas a curiosidade foi mais forte.
Na hora marcada César já esperava no local. Apenas o som da sua respiração o acompanhava.
Aquela casa causava-lhe arrepios mas ao mesmo tempo sentia uma forte ligação pois tinha sido ali que sua Clara tinha vivido e ainda lhe conseguia sentir o cheiro.
Esperou durante largos minutos que lhe pareceram horas devido ao nervosismo miudinho que sentia, até que o som da porta o distraiu.
O apartamento de Clara ecoava medo e da porta surge um vulto.
-Que fazes aqui?
Na porta entreaberta estava Mesquita, seguido de Marta confusa com o que se estava a passar.
César gaguejando com o atrapalhamento natural de uma situação daquelas disse que estava ali por causa das sms anónimas que vinha a receber desde a morte de Clara.
-Mas achas que somos otários!
O assassino volta sempre ao local do crime e essas sms que dizes receber... nós estivemos a investigar na rede e não se confirma a veracidade dessas sms, aliás, encontramos vários sms reenviados para o teu número se é que me faço entender...
César não podes fugir, diz-nos a verdade.
Do outro lado da casa de súbito se ouviu um grito que logo espalhou silêncio por toda a casa.
Marta logo se apressou a correr até ao quarto onde se tinha sentido o barulho, era nem mais nem menos que a casa de banho onde Clara morrera.
Marta entrou e seu peito foi invadido por sentimentos confusos e sentia muita dor. Sentia-se tonta e sufocada por uma angústia que não percebia, desesperada tenta agarrar-se a algo para equilibrar o seu corpo cambaleante mas não conseguiu, desmaiou naquele chão maldito.
Mesquita e César logo se apressaram a ir ao encontro dela mas nada mais encontraram que Marta estendida no chão.
Olharam um para o outro esperando que alguma explicação racional sobre o que estavam a ver pudesse surgir, mas nem um suspiro se ouviu naquela casa de silêncios.
Marta estava de novo inconsciente aquele lugar era como um travo amargo para ela.
Mas o que será que Marta viu??
...
quinta-feira, 5 de julho de 2007
Capítulo XXVII
- Que horror! Ainda cheiro àquilo! Banho. Preciso de um banho. E esta roupa toda também.
Marta dirige-se à casa de banho. Tira a roupa como se estivesse cheia de formigas e coloca-a da parte de fora da porta. Abre a torneira e ajeita o chuveiro:
- Não! Hoje … preciso de relaxar. No emprego está uma barafunda por causa daquela treta da máfia. Tratar da casa. Tratar dos assuntos dos outros. Ajudar a polícia. Este dossier malfadado…. Também preciso de tratar de mim. - pensou.
Coloca a tampa no ralo e o tapete de borracha no fundo da banheira e senta-se na beira do bidé olhando para a turbulência da água a cair.
Os seus pensamentos voam por minutos. Lembra-se do Mesquita e das suas piadas. “ Voa patinho…” . Sorriu. Percorre mentalmente todos o factos procurando omissões. Experimenta a temperatura. Fecha a torneira e com satisfação entra na água devagar, saboreando cada centímetro. Mergulha completamente voltando novamente à superfície, passados alguns segundos, ao mesmo tempo que puxa para trás seu cabelo. Deixa-se estar só com a cabeça de fora. Vai respirando devagar procurando relaxar. A água subia e descia, qual maré, acompanhado a respiração. Suas mãos sobem desde as ancas, passando pelo abdómen até à zona mamária inferior. As duas mãos acariciam o contorno suave de cada mama, subindo, depois, pelo externo, ficando com as mão cruzadas em cima de cada clavícula oponente.
Ouve um barulho. A porta começa a abrir-se devagar. Seu coração começa a acelerar. Sente um nó na garganta. Não sabe o que fazer. Lembra-se de gritar, mas uma orelha e uma pata branca denunciam o invasor:
- Becas! Seu doido!
- Miau! - respondeu sentando-se olhando para a dona com uma ar curioso.
Precisava mesmo relaxar. Fecha os olhos. Várias imagens surgem. Imagens que já lá existiam. Coisas que já tinha visto. Relembra o que viu há poucos minutos. Aquele boné. Podia ser uma pista.
- Tenho que ir aos locais.!
Abre os olhos e olha para fora da banheira. Tenho que ensinar o Becas a trazer o telefone.!
Pega no champô. Esquece! Fica para amanhã! Hoje é a minha vez!
--//--
- Pois é, Pedro! Não adiantamos nada!
- NADA?
- Nada! Ainda ontem jantei com Marta… - … jantar? … - … sim jantar, e ela, coitada ainda passou um mau bocado.
- Mas, Mesquita, nem uma porra de uma pista?
- Nem uma!… - diz num tom impotente.
O telefone da mesa gritou.
- Xiça! Tenho que baixar o som disto. – Estou?... Sim! Pode passar…. É Marta! – disse com a mão no micro. Pedro levantou-se e ficou alerta com ambas mãos em cima da secretária. Mesquita levanta a mão com o dedo indicador apontando para o tecto quando sentiu que Marta já estava do outro lado. - Estou? Marta?... Bom dia! Estás melhor?... Logo vi que sim! Mas diz-me lá porque me telefonas logo de manhã. Tens alguma coisa para mim?... Sim!... Hum-hum… - Mesquita ouviu por 1 minuto interrompendo somente com sim’s e hum-hum’s. Pedro mexia-se como um Tigre numa jaula, de um lado para o outro sem parar. Mas ela já viu alguma coisa? - Sim Marta. Fazemos assim. Vou buscá-la. Certo? Estou aí em 15 minutos. - desliga.
- Homem! Fala comigo! Estou quase a rebentar.
- Pedro. Vai para casa. Depois falamos.
- Para casa? Onde vais?
- Eu vou aonde tu não podes ir. Por isso casa!
- Eu também vou. Ela descobriu alguma coisa, não foi?
- Depois digo-te. Marta o que precisa menos agora é tipos a deitar fumo como tu. CASA!
- OK! OK! Está bem! Já percebi! É gira não é?
- Olha lá! Ainda tens a esposa morna e já andas de garras de fora? Qu’é essa merda?
- Eu já não estava com Clara há mais de meio ano. E já tive outras aventuras entretanto.
- Vá! Vai lá para casa. Quando é que cresces pá!? Desde a 4ª classe que és a mesma coisa.
--//--
- Então Marta!? Conta-me… e por cada senhor, passo-te uma multa.
- Bem! Preciso ir aos locais onde se deram estes crimes.
- TODOS?
- Não! Para já acho que não! Estava a pensar ir ao sítio onde houve maior tensão. O 3º.
- É uma boa ideia. Vamos lá então! Já vim prevenido. Trouxe as chaves! – disse mostrando um chaveiro apinhado.
A casa ficava no centro de Oeiras. Num prédio que de novo tinha muito pouco, mas estava bem cuidado.
Mesquita vai na frente. Sobe as escadas, escolhendo a chave certa. Chegando, abre a respectiva porta
- Mesquita? Uma pergunta parva. Repararam que as mortes foram sempre a 4ª terça-feira do mês?
- Como?
- Sim! Como está no dossier, 4 em 4 meses, mortas sempre da mesma maneira, MAS… sempre na 4ª terça-feira do mês.
- Bem! Já tinha reparado que era sempre numa 3ª feira, mas na 4ª do mês… sinceramente, não! Escapou-nos. Mas é assim tão relevante?
- Pode ser. Não sei. Mas uma coisa sei. O prazo está a terminar!
- Sim! Dia 24 de Julho… eu sei! Temos que nos mexer ou então… bom! Anda entra. Está aberta. Abrem-me bem esses olhos. Os objectos ajudaram?
- Sim. A toalha da dona desta casa deu um resultado mais ou menos o mesmo que dos outros objectos. Mas acho que aqui deve haver mais qualquer coisa.
- Eu fico aqui de lado. Deixa-me fechar a porta.
Marta acena com a cabeça afirmativamente sem tirar os olhos daquilo que lhe parecia a porta da casa de banho. Avança devagar. Com a ponta dos dedos da mão direita empurra porta, como se estivesse a escaldar, até estar completamente aberta. Sentiu um arrepio. Dá o primeiro passo. Inspira profundamente. Avança os braços como se deambulasse numa noite escura. Dobrasse indo tocar da cortina, rasgada, da banheira que está no chão. 3 flashes seguidos. Já os tinha visto. Nada demais. Toca nas paredes. Dizem-lhe pouco. Como se as imagens estivessem cansadas de dizer o mesmo.
Marta baixa os braços frustrada. Novo arrepio. Marta esfrega o braço esquerdo. Quando se volta, como se procurando algo, os olhos batem no espelho do lavatório. Algo lhe diz que é importante. Na da primeira vez, em casa de Clara, e agora outra vez. Aproxima-se. Levanta a mão esquerda e toca no espelho. Naquele mesmo momento ela vê reflectido um homem de cara tapada com um passa-montanhas preto. Boné na cabeça. Está baço. Está calor. Ouve-se a água correr. Humidade no ar. Estás em paz! - profere Marta. Começa a vocalizar uma melodia sua conhecida. Novo arrepio.
Marta deixa o espelho e sai da casa de banho. Mesquita assistiu a tudo e longe, calado. Pergunta:
- Ele mata para se sentir em paz?
- Parece que sim! Mas não sei. Há aqui qualquer coisa muito importante. Já senti isto em casa de Clara e volto a sentir aqui... - procura -não sei onde… - mulher! olha em volta - não sei - mexe em tudo. Na sanita. No porta-moedas. Em qualquer porra! Anda ! - MESQUITA! JÁ DE DISSE, NÃO SEI! Desculpa! Estou confusa. Dá-me vontade de partir qualquer coisa. Agarrar em coisas - Marta pega no comando do DVD - e atirar com elas... - um flash fez Marta ficar tensa de olhos arregalados como se tivesse levado um tiro. Volta-se para o DVD.
- Esta casa ainda tem electricidade?
- Sim!
- Alguém abriu o DVD?
- Sim! Quer dizer, não sei! Acho que sim! Eles têm ordens para ver tudo.
Marta estende a mão e liga a televisão e de seguida o DVD.
De imediato o DVD começa a ler um disco que estava inserido. Um vídeo clip.
- Ele quer que o ajudem! Pede por socorro! - disse Marta depois de de visualizado o vídeo.
- Concordo! - diz Mesquita em tom monocórdico ainda com os olhos no ecran da televisão. Pega no telefone. - Estou ! Quando chegar quero saber porque raio é que ninguém verificou o DVD no 3º caso!... Qual caso? QUAL CASO? O CASO QUE TENHO COM A EMPREGADA DO BAR DA ESQUINA!! QUAL CASO É QUE ACHAS QUE ESTOU A FALAR?... Hã?... O quê?... Júlia?... Qual Ju… a emprega… grrrr…QUERES FAZER O FAVOR DE LEVANTAR ESSE CÚ DA CADEIRA E IR VERIFICAR SE OS DVD’S FORAM VISTOS? … e caso não se lembrem… metem os pés a caminho e … … hã?... AQUI NÃO, ESTÁ CLARO! MAS HOJE ACORDASTE PARA O LADO DA ESTUPIDEZ?... ISTO É UMA FALHA MUITO GRAVE! MEXAM-SE!
Marta olha para Mesquita atónita:
- Até eu fiquei com vontade de ir a correr para qualquer lado. Xiça! Onde está o Mesquita que conheço?
- Está visto que ainda não se levantou da cama! Bom! Resumindo. Que temos?
- Bom! Temos alguém que não bate bem da cabeça. Gosta de matar mulheres loiras de olhos verdes, que se vestem bem, em determinada data e sempre do mesmo modo Não desarruma a casa. Só tem interesse na mulher e nunca arromba portas. Podemos presumir que é sempre conhecido das vítimas. Ele segue um padrão, mas pouco nos ajuda a saber onde será a próxima vitima, ou quem. Pelo menos desta vez deixou um DVD no leitor, nos outros sítios vamos a ver.
- Estamos na mesma.
- Bem! Nem tanto. Já seguiram o rasto de cada vítima? Locais que frequentavam. Algum clube… sei lá! Algo que as ligasse.
- Não demos com nada!
- Tem que ser alguém do convívio… alguém em quem confiam… ou então frequentam um lugar onde deixam a mala acessível de modo que alguém possa fazer um molde da chave de casa.
- Meu Deus! Eu sei! E a porra do DVD nem uma dedada tem. Nada! - suspirou Mesquita desconsolado.
- Quero ir a casa de Clara! Aquele espelho da casa de banho também deve ter algo para me dizer.
- E estás à espera de quê?? Já estás à porta do carro?
domingo, 1 de julho de 2007
Capítulo XXVI
-Estou! Inspector Mesquita? Daqui é a Marta. A maluquinha com "aquilo" do PES... Está tudo, mais ou menos. Olhe... OLHA... Estou com a cabeça cheia de dúvidas e confusa. Podíamos marcar um encontro? SIM?... Obrigado. Onde?... Jantar? Está bem! ... Em que lugar?... Ok! Vou ter consigo... contigo.
Em 15 minutos Marta chega de táxi ao Parque das Nações. Francisco estava á sua espera. Encostado ao seu Peugeot 307 preto, acena para Marta. A conversa logo começou.
- Conheço um óptimo restaurante, Marta.
- Ai sim Inspector.... Ainda bem, pois estou com alguma fome. Mas olhe que eu tenho gostos requintados!!!
- Mas eu pensava que você estava... com fome??!!
- Hahahaha!!! Estou a ver que requintado é o seu humor, Insp.... Francisco. Gosto disso. Ainda bem que me saiu na rifa um Inspector da Judite com bom humor. É bom para aliviar a tensão destes dias.
- Acredito que estejam a ser uns dias terríveis para si. Nunca imaginou que estaria neste momento a ajudar a "Judite" na descoberta de um Serial-Killer.
-Isso é verdade.
-Se realmente conseguir apurar a sua PES, pode bem ser a grande obreira de tal feito. É por isso que trouxe um dossier com dados relativos ás mortes das outras 3 vitimas que quero que analise muito bem. É muito importante que consiga dominar na perfeição esse seu dom, para que nos ajude a travar este assassino.
- Pois... Isso vai ser o mais dificil.
- Mas vai conseguir. Eu sei que sim. Eu acredito em si. Só falta você acreditar. E...ah e tal, se fôssemos comer então??
- Aí está uma boa ideia. Até já tenho o estômago colado ás costas.
......................................
Chegados ao restaurante, sentaram-se bem junto à janela, que dispunha de uma bela vista para o rio Tejo. O restaurante tinha uma decoração moderna com fotografias de músicos e vários instrumentos espalhados pelo espaço. Tudo era referência à música. Marta gostava. Estava deslumbrada com a envolvência conceptual em torno da música. Os Nouvelle Vague são o som de fundo. A letra de Dance With Me conseguia-se ouvir na perfeição.
"Let's dance little stranger
Show me secret sins
Love can be like bondage
Seduce me once again.
...
Won't you dance with me
In my world of fantasy
Won't you dance with me
Ritual fertility."
Dossier na mão e pronta para ir embora, Marta deixa cair algumas fotos do dossier. Há uma que lhe prende a atenção. Raquel Coelho estava meio emergida nas águas calmas da banheira. Olhos abertos. O olhar era mórbido e sereno ao mesmo tempo.
Marta observa atentamente, e num ápice começa a sentir algo estranho. Como se alguém a estivesse a arrastar para um local desconhecido. Estava em pleno apartamento da segunda vítima. Naquele momento, viu alguém... alto e esguio. Vestia de preto e usava chapéu. Um chapéu como outro qualquer. Também preto. A imagem era turva e dessincronizada. Mas era real e perceptível o suficiente para saber que era o assassino... alto e esguio. Acabara de sair do apartamento... a cheirar a "morte" nas suas mãos. Implacavél...
"Spy something begining with S.......
On candystripe legs the spiderman comes
Softly through the shadow of the evening sun
Stealing past the windows of the blissfully dead
Looking for the victim shivering in bed
Searching out fear in the gathering gloom and
Suddenly!
A movement in the corner of the room!
And there is nothing I can do
And I realize with fright
That the spiderman is having me for dinner tonight!
............
And I feel like I'm being eaten
By a thousand million shivering furry holes
And I know that in the morning I will wake up
In the shivering cold
The spiderman is always hungry..."